Blog do Emanuel Mattos

segunda-feira, 3 de março de 2008

Em novo endereço

Domínio próprio, endereço novo:

http://blog.emanuelmattos.com.br/

Não vou desativar este, por enquanto.
Permanecerá no espaço feito asteróide.
Piloto outra nave na galáxia dos blogs.
Repito abaixo o e-mail onde estou:

http://blog.emanuelmattos.com.br/

Sejam bem-vindos à casa nova.

O atendimento continua o mesmo.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Enquanto o Oscar não vem *


Sou macaco de auditório do Oscar. Desde que me entendo por gente não perco uma cerimônia. Adoro toda a mise-en-scène em torno do espetáculo.

A história da minha vida é pontuada por filmes.

Nos anos 50, guri de calça curta, ao brincar na fila do colégio, em Gravataí, fui interpelado por uma freira:

- Por que não te comportas como o Joselito!


A matrona se referia ao jovem astro espanhol Joselito Jimenez. Na época, os filmes de Joselito e sua parceira Marisol eram um acontecimento notável.

Já nos anos 60, o principal lazer dos internos no Colégio Champagnat, de Porto Alegre, era a sessão noturna de cinema, às quartas-feiras. Com a TV incipiente, as três divisões lotavam o auditório.

Nem sempre de acordo com as faixas etárias. Bem ao contrário. Certa vez um marista subiu no palco e avisou:

- O filme tem cenas fortes. Os menores fechem os olhos.

Adivinhe qual o filme que passou naquela noite?


"Psicose", o dramático suspense de Alfred Hitchcock.

Pois a famosa cena do chuveiro, em que Anthony Perkins esfaqueia Janet Leigh até a morte foi vista por meninos de 9 e 12 anos (divisão dos Menores), adolescentes de 13 a 15 (Médios) e 16 até 18 (Maiores).

Impossível descrever o trauma que a sessão provocou.


Mas há boas recordações. Como na véspera de Natal em que minha mãe nos levou para assistir o estrondoso sucesso "Doutor Jivago", de David Lean, depois de enfrentar longa fila no Cine Guarany, na capital gaúcha.

Outro fato inesquecível: meu primeiro emprego foi como vendedor ambulante de balas no Cine Eldorado. Caminhava pelos corredores com a bandeja pendurada por uma tira de couro no pescoço e anunciava:

- Balas! Baleiro, balas!


Certa semana passou um faroeste com interminável perseguição no final. Nessa hora, sentava na primeira fila e comia as balas enquanto durava o tiroteio. A conta nunca fechava, claro. E eu mentia ter sido roubado.

Com 16 anos já trabalhava com carteira assinada e podia ver todos os filmes que quisesse. Num sábado fiz o seguinte roteiro: às 14 horas entrei num cinema, às 16h em outro, às 18h no terceiro e às 20 horas vi o quarto filme do dia. Lembro até um deles: “O pecado de todos nós”, com Elizabeth Taylor e Marlon Brando.


Nos anos 60, conhecia de cor as principais redes de cinema de Porto Alegre. Recito aqui: 1. Vitória, Rio Branco, Rei, Roma, Ipiranga e Teresópolis; 2. Cacique, Eldorado, Atlas e Pirajá; 3. Imperial, Ritz, Rosário e Rival; 4. Continente e Presidente; 5. Baltimore & Cia.

Integraram o circuito pré-shopping: Guarany, Rex, Ópera, Capitólio, Carlos Gomes, Colombo, Real, Orfeu (virou Astor), Moinhos de Vento (depois Coral), Vogue, América, Gioconda, Miramar, Talia e Teresópolis.


Desse período, jamais esquecerei "Os Aventureiros", dirigido por Robert Enrico, com Alain Delon, Lino Ventura e Joanna Shimkus. Foi considerado o melhor filme daquele ano pelos exigentes críticos gaúchos.

Podia seguir adiante, até porque faltaram os anos 70, 80, 90 e o início deste século 21, com tantos filmes marcantes. É muito. Fica para outra oportunidade.


Entre todos os filmes dos últimos 40 anos, nenhum me marcou tanto como “A Noite Americana”, de François Truffaut, uma tocante declaração de amor ao cinema.

E finalizo esse post com cenas comoventes: a teimosia do pequeno "Billy Elliot" para se tornar dançarino. Teve três indicações ao Oscar. Imperdoável Jamie Bell não ter sido sequer indicado para concorrer a melhor ator.


Pronto. Extravasei enquanto aguardo o Oscar 2008.

* Dedicado a Luiz Carlos Merten pela homenagem ao saudoso Sérgio Moita no post 'Quem sabe em 2009?'. E revela: "Quero só voltar aos comentários porque encontrei, lá pelo meio, o do meu ex-colega na 'Zero Hora', em Porto Alegre, o Emanuel. E ele citou outro grande amigo nosso que morreu, o Sérgio Moita. Pronto, me bateu a melancolia. Quando escrevi aquele livro 'Cinema - Entre a Realidade e o Artifício', dediquei-o a dois amigos que me faltam, o Sérgio e o Romeu. Chamei-os assim. Deveria ter deixado claro que eram o Sérgio Moita e o Romeu Grimaldi. São, realmente, amigos cuja lembrança me acompanha."

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domingo, 17 de fevereiro de 2008

Eric Clapton, o deus que se fez homem

Finalizei Eric Clapton – A Autobiografia (Editora Planeta, tradução de Lúcia Brito). No post de 10 de fevereiro - “O homem que quase reuniu The Beatles” - prometi escrever a respeito quando virasse a página 394.

Não cumpri. O impacto me fez meditar muito a respeito.

Até concluir: é o melhor livro de auto-ajuda que já li.

Eric Clapton, um gênio musical é, antes de tudo, um sobrevivente. Conseguiu, depois de muitas recaídas, sufocar o alcoolismo e abandonar as drogas que ceifaram tantas vidas, especialmente no meio artístico.

Essa, a parte que me pegou pela garganta, pra repetir a expressão que usei no blog do Luiz Carlos Merten, principal crítico de cinema do país. Ele antecipou em Berlim que ‘Tropa de Elite’ estava no páreo. Na mosca: Urso de Ouro conquistado pelo diretor José Padilha.

Volto ao Eric Clapton agarrado no meu pescoço.

No epílogo do livro “escrito aos 62 anos de idade, sóbrio há 20 anos, e mais ocupado que nunca”, Clapton admite com uma sinceridade chocante:

"Minha família continua a me trazer alegria e felicidade no cotidiano, e, se eu fosse qualquer coisa que não um alcoólatra, alegremente diria que ela é a prioridade número 1 de minha vida.
Mas não pode ser assim, pois sei que perderia tudo se não colocasse minha sobriedade no topo da lista. Continuo a participar dos encontros dos 12 passos, e mantenho contato com o máximo possível de pessoas em recuperação. Permanecer sóbrio e ajudar outros a alcançar a sobriedade será sempre a proposta mais importante de minha vida". (Página 390)

Essa foi a questão mais relevante para mim, que estou sóbrio há pouco mais de dois anos e me sentia ‘o cara’.


Eric Clapton viveu mil vidas. Filho bastardo, cresceu pobre e revoltado ao descobrir sua condição. Aos 20 anos, viu graffitis serem espalhados nos muros de Londres: “Eric é Deus”, pela forma de tocar guitarra, quando os Beatles e Rolling Stones estavam no auge.



Sua trajetória está contada em minúcias no livro. Uma história tão inspiradora quanto os blues que executa.


Não sabia por onde iniciar o post. Então lembrei do diagnóstico do doutor Paulo Argolo Mendes: “20% da população tem sensibilidade ao alcoolismo mas o indivíduo só sabe depois que se tornou doente”, disse o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul.

Diante do quadro, decidi reproduzir trechos da autobiografia de Eric Clapton. Se a leitura servir para reflexão de uma só pessoa, já terá valido a pena.

Com vocês, Eric Clapton e sua riquíssima lição de vida:




"Em 1944, a exemplo de muitas outras cidades do sul da Inglaterra, Ripley viu-se inundada por tropas dos Estados Unidos e Canadá, e a certa altura Pat, com 15 anos de idade, teve um rápido caso com Edward Fryer, um aviador canadense estacionado nos arredores.

Conheceram-se num baile em que ele tocou piano na banda. Acontece que ele era casado, de modo que, quando descobriu que estava grávida, ela teve que se virar sozinha.

Rose e Jack protegeram-na, e eu nasci em segredo no quarto dos fundos, no andar de cima da casa deles, em 30 de março de 1945. Assim que foi possível, quando eu tinha dois anos, Pat deixou Ripley e meus avós me criaram como filho. Fui batizado Eric, mas todos me chamavam de Ric.

Minha mãe tinha seis irmãs: Nell, Elsie, Renie, Flossie, Cath e Phyllis, e dois irmãos, Joe e Jack. Não raro, duas ou três dessas famílias apareciam no domingo. As conversas sempre aconteciam na minha frente, como se eu não existisse, com cochichos entre as irmãs. Era uma casa cheia de segredos.

Um dia ouvi uma de minhas tias perguntar: “Você tem notícias da mãe dele?”, e comecei a me dar conta de que, quando tia Adrian me chamava de pequeno bastardo, estava falando a verdade. (Páginas 12 e 13)



As pessoas sempre dizem que lembram exatamente onde estavam no dia em que o presidente Kennedy foi assassinado. Eu não, mas lembro de ter ido para o pátio da escola no dia em que Buddy Holly morreu, e da sensação que havia lá. O lugar parecia um cemitério, e ninguém conseguia falar, tamanho o choque.

De todos os heróis musicais da época, ele era o mais acessível, e era verdadeiro. Era evidentemente um guitarrista de verdade, e acima de tudo, usava óculos. Era um de nós. O efeito de sua morte foi espantoso. Depois disso, alguns dizem que a música morreu. Para mim ela pareceu escancarar-se. (Página 30)

Eu achava que havia algo de outro mundo na cultura da bebida, e que ficar bêbado tornava-me membro de um clube estranho e misterioso. Também me dava coragem para tocar e, por fim, transar com uma garota. As noites de sábado sempre seguiam a mesma rotina em Kingston. Nos encontrávamos todos no Crown e eu tocava. Um cara que estava sempre lá era Dutch Mills, um sujeito afável que tocava gaita de blues, e na maioria dos sábados fazíamos festa na casa dele.

Foi quando de fato perdi a virgindade com uma garota chamada Lucy, mais velha do que eu, cujo namorado estava fora da cidade. Fiquei aterrorizado e sem jeito, ainda fico com esse asunto, mas ela me ajudou pacientemente... (Página 42)



Enquanto trabalhava para melhorar o modo de tocar, ia conhecendo mais e mais pessoas que tinham o mesmo respeito e reverência pela música que eu amava. Um sujeito fanático por blues era Clive Blewchamp – nos conhecemos em Hollyfield e partimos juntos em uma fantástica viagem de descobertas. Foi Clive quem tocou o álbum de Robert Jonhson para mim pela primeira vez. (Página 44)

Casey Jones and the Engineers fizeram apenas uns sete shows. Nesse meio tempo eu ainda trabalhava em construção para meu avô e circulava pela cena musical que então florescia. Alexis Korner tinha inaugurado seu próprio clube em um porão apertado.

Giorgio Gomelsky tinha aberto o CrawDaddy Club no velho Station Hotel, em Richmond, onde a banda residente nas noites de domingo era a recém lançada Rolling Stones. Mick, Keith e Brian tocavam onde quer que conseguissem, no 51 Club de Ken Colyer, em Charing Cross Road, no Marquee e no Ealing Club.



Eu às vezes ficava no lugar de Mick quando ele tinha dor de garganta, e durante um tempo éramos todos bastante chegados. (Página 55)

Era uma vida incrível, e às vezes eu não acreditava que estivesse acontecendo. Uma noite, por exemplo, Mark Vernon, dono da gravadora Blue Horizon, pediu-me para ir a um estúdio trabalhar em uma sessão, e me vi tocando com Muddy Waters e Otis Spann, dois de meus heróis eternos.



Fiquei absolutamente aterrorizado, não por achar que não tivesse condições em termos musicais. Eu simplesmente não sabia como me comportar perto daqueles caras. Eram incríveis. E lá estava eu, um garoto branco magrela. Eu estava no paraíso, e eles pareciam bem felizes com o que eu fiz.

A essa altura as pessoas começaram a falar de mim como se eu fosse algum tipo de gênio, e ouvi dizer que alguém tinha escrito “Clapton é Deus” na parede da estação do metro em Islington. Então aquilo começou a pipocar por toda Londres, como graffiti. (Páginas 78)



Um visitante habitual era George Harrison, que eu conhecia desde os Yardbirds. Ele costumava dar uma passada vindo de seu escritório em Savile Row a caminho de casa, um bangalô em Esher, e com freqüência trazia acetatos dos discos em que os Beatles estavam trabalhando.

Um dia, no começo de setembro, George me levou até os Abbey Road Studios, onde estava gravando. Quando chegamos, ele falou que iam gravar uma de suas canções e me pediu para tocar guitarra.

Fiquei bastante surpreso e considerei uma coisa engraçada de se pedir, visto que ele era o guitarrista dos Beatles e sempre havia feito um belo trabalho nos discos. Também fiquei bastante lisonjeado, pensando que não havia muita gente que fosse convidada para tocar em um disco dos Beatles. Eu nem havia levado a minha guitarra, de modo que peguei a dele emprestado.


Minha análise da situação foi que John e Paul faziam pouco das contribuições de George e Ringo para o grupo. George apresentava canções em cada projeto apenas para vê-las empurradas para o segundo plano. Creio que ele sentiu que nossa amizade poderia dar-lhe algum apoio e que ter-me ali para tocar poderia estabilizar sua posição e quem sabe até granjear-lhe algum respeito.



Fiquei um pouco nervoso porque John e Paul eram muito seguros de si, e eu era um forasteiro, mas foi tudo bem. A canção era “While My Guitar Gently Weeps”. Fizemos um take e foi fantástico. John e Paul estavam muitíssimo desinteressados, mas vi que George ficou feliz, pois ouviu-a repetidas vezes na sala de controle. Senti como se tivesse sido introduzido na santuário deles. (Página 121)

Nesse período eu estava vendo George Harrison cada vez mais, especialmente tendo em vista que agora éramos praticamente vizinhos. George e sua mulher Pattie viviam em uma propriedade residencial em Esher, a cerca de meia hora de carro, um bangalô espaçoso chamado Kinfauns. Começamos a andar bastante juntos. Às vezes ele e Pattie vinham a Hurtwood me mostrar um carro novo ou jantar e ouvir música.




Foi nos primeiros tempos de Hurtwood que George escreveu uma de suas mais belas canções, “Here Comes the Sun”. Era uma linda manhã de primavera, e estávamos sentados no alto de uma grande campina nos fundos do jardim. Estávamos com nossas guitarras, apenas dedilhando, quando ele começou a cantar “de da de de, it’s been a long cold lonely winter”, e pouco a pouco a elaborou, até a hora do almoço. (Página 127)

Dessa vez eu não tinha nenhum plano de ação. Estávamos apenas curtindo tocar, nos drogar e escrever canções. Harrison era um visitante assíduo. Havia se mudado há pouco para uma vasta mansão em Herley chamada Friar Park, e suas visitas davam-me muitas oportunidades de flertar com Pattie.

Uma noite telefonei para ela e contei a “verdade”. Que era ela quem eu realmente queria. A despeito de seus protestos por ser casada com George e de dizer que o que eu estava sugerindo era impossível, ela concordou em que eu fosse lá para conversar. Fui de carro, falamos e bebemos uma garrafa de vinho, e acabamos nos beijando, e pela primeira vez senti que havia algum tipo de esperança. (Página 147)



Movido por minha obssessão por Pattie, estava escrevendo muito, e todas as canções que escrevi para o álbum dos Dominos são sobre ela e nosso relacionamento. "Layla" foi a cancão-chave, uma tentativa consciente de falar com Pattie sobre o fato de que ela estava resistindo e não viria ficar comigo. "O que você vai fazer quando ficar solitária?"

Ao longo dos meses seguintes continuei tentando cegamente persuadir Pattie a deixar George e vir morar comigo, mas não deu em nada. Até que um dia, depois de outra sessão de apelos infrutíferos, falei que, se não a tivesse, começaria a usar heroína em tempo integral.

Na verdade, é claro que já vinha usando quase que em tempo integral há algum tempo. Ela sorriu tristemente para mim, e eu soube que o jogo estava acabado. Exceto por um breve encontro no aeroporto de Londres, aquela foi a última vez que a vim em vários anos. (Páginas 151 a 155)

Durante todo o tempo em que usei heroína, pensei que soubesse exatamente o que estava fazendo. Não era uma vítima indefesa de jeito nenhum. Fazia aquilo principalmente porque gostava do barato, mas, pensando bem, em parte também para esquecer a dor do meu amor por Pattie e pela morte de meu avô.

Também pensei que estivesse endossando o estilo de vida rock’n’roll. Eu curtia a vida de grandes músicos de jazz como Charlie Parker e Ray Charles, e bluesmen como Robert Johnson, e tinha uma noção romântica de viver o tipo de vida que os havia levado a criar sua música. Também queria provar que podia fazê-lo e sair vivo. (Página 160)



No verão de 1971, a mais de um ano de meu exílio auto-imposto, George telefonou um dia para perguntar se eu iria a Nova York tocar em um show que ele estava organizando para o começo de agosto no Madison Square Garden para angariar dinheiro para as vítimas da fome em Bangladesh. Ele sabia muito bem do meu problema com drogas e deve ter visto aquilo como alguma espécie de missão de resgate.

Uma das poucas pessoas que vi nessa época foi Pete Townshend, que, durante um raro período em que eu queria trabalhar, pedi para vir me ajudar a acabar algumas faixas que eu havia gravado com Derek and the Dominos. Entretanto, quando ele chegou, eu havia perdido o interesse no projeto e, em um esforço para explicar minha total inércia, confessei a ele que estava com um problema. Fiquei horrorizado quando ele disse que já sabia há algum tempo. (Página 164)

Meg Patterson, neurocirurgiã escocesa que havia trabalhado por anos em Hong Kong, onde desenvolvera um método de tratar os sintomas de abstinência de ópio usando uma modalidade de acupuntura elétrica. Suas histórias sobre viver e trabalhar em Hong Kong e na China entre os viciados eram fascinantes, e ela pareceu muito confiante de que podia me ajudar. George, seu marido, também era interessante, e havia passado bastante tempo no Tibete para conhecer as guerrilhas que lutavam contra os chineses.

Olhando agora, honestamente acredito que Meg e George fizeram o melhor que podiam com o que tinham. Mas não era o bastante. Porque, apesar de todo o bem que possam ter feito tirando-me da heroína, deixar-me à solta sem qualquer cuidado posterior foi uma ignorância, e algo perigoso. Simplesmente troquei uma substância de abuso por outra. (Página 168)


Um dia, enquanto estava na fazenda, recebi um telefonema de Pete Townshend perguntado se gostaria de fazer uma ponta na versão para cinema de “Tommy”, rodado nos Pinewwod Studios. Ele queria que eu tocasse uma velha canção de Sonny Boy Williamson, "Eyesight to the Blind”, fazendo o papel de pregador de uma igreja que cultuava Marilyn Monroe.



Embora eu achasse que soasse como um monte de baboseiras, não resisti à idéia de tentar, de voltar ao trabalho de tocar e cantar uma canção e gravar uma faixa. Mandaram me buscar na fazenda e me levar para passar o dia no estúdio. Foi uma experiência surreal, pois passei o dia enchendo a cara com Keith Moon, e vê-lo viajando a toda me fez sentir que não tinha absolutamente nenhum problema. (Página 178)

Uma bebedeira pós-psicodélica pareceu levar de roldão todo mundo do setor de entretenimento no início da década de 1970. Para você estar no palco, era quase esperado que estivesse bêbado. Lembro de fazer um show inteiro deitado no palco, com o microfone também deitado atrás de mim e ninguém sequer pestanejou. Tampouco vieram muitas reclamações, provavelmente porque a platéia estava tão bêbada quanto eu.

Claro que havia umas poucas luzes cintilantes na estrada naquele tempo, artistas de elevados padrões éticos e profissionais, como Stevie Wonder, Ray Charles e B.B.King.



E, se eu tivesse tido a coragem ou clareza mental de entender o exemplo que estavam dando, talvez tivesse começado a dar jeito em meu inabalável declínio. Mas estamos falando de alcoolismo, e eu já estava em profunda negação sobre o rumo que minha vida estava tomando. (Página 187)

Quando a turnê acabou, Tom e Roger pensaram que seria bom, devido ao sucesso de “I Shot the Sheriff”, rumar para o Caribe para conferir o lance do reggae.



Eu não conseguia acompanhar o consumo de ganja deles, que era maciço. Se eu tentasse fumar tanto ou com tanta freqüência, ou teria apagado, ou começaria a ter alucinações.

Fizemos duas canções com Pete Tosh, que parecia estar inconsciente boa parte do tempo, atirado em uma cadeira. Então, quando gravávamos a faixa, ele levantava e tocava seu wah-wah, uma marca registrada do reggae, de modo brilhante, mas voltava para o transe tão logo acabávamos. (Páginas 194 e 195)



A banda consistia em Ronnie e eu, Charlie Hart no violino, Bruce Rowland na bateria e Brian Belashaw no baixo, e às vezes nos instalávamos no cais e tocávamos como artistas de rua, enquanto Nelly e Katy vestiam-se com trajes de can-can e dançavam. Foi um fiasco completo e com certeza não ganhávamos dinheiro algum, mas foi muito divertido.

Para mim isso teve a ver com beber e fugir de minhas responsabilidades de líder de banda, de modo que pudesse apenas andar por aí, e tocar por puro prazer, e a música refletiu isso. Era muito despretensiosa e basicamente acústica, e foi bem nesse espírito que a canção “Wonderful Tonight” foi escrita enquanto esperava Nell vestir-se para irmos jantar.



Lembro de ter dito: “Veja, você está maravilhosa, ok? Por favor, não troque de roupa de novo.” Era uma situação doméstica. Desci de volta para a guitarra, e a letra veio rapidamente. Foi escrita em cerca de dez minutos, na verdade escrita em clima de raiva e frustração. (Página 207)

Fomos surpreendidos por uma batida na porta, e, quando Jamie abriu, havia dois caras agachados do lado de fora, apontando suas armas para a entrada. Alguém tinha me avistado na saliência e pensou que eu fosse algum tipo de assassino, e chamou a polícia. Quando perceberam que era um bêbado idiota fazendo papel de bobo, deixaram-me livre de má vontade, mas custou um bocado de conversa mole de Roger.

Infelizmente, tal comportamento pouco contribuiu para minha reputação, e quando, em novembro de 1978, Roger teve que cancelar um show em Fankfurt por problemas técnicos, a manchete de um dos grandes jornais nacionais gritou: “ERIC CLAPTON - BÊBADO DEMAIS PARA TOCAR”. (Página 210)

Por mais que eu achasse que amava Pattie, a verdade é que a única coisa sem a qual não conseguia viver era o álcool. Isso tornou minha necessidade ou capacidade de me comprometer com qualquer coisa, inclusive casamento, bastante inconseqüente, e de qualquer modo era só questão de tempo antes de a norma “nenhuma mulher na estrada” ser invocada, e eu já estar de novo à solta e na correria.

Umas das primeiras coisas que Pattie fez quando voltou à Inglaterra foi começar a organizar uma festa para todos os nossos amigos ingleses para celebrar nosso casamento.

Um palco havia sido montado na tenda, e a idéia era de que a banda consistiria de qualquer um que ficasse a fim de subir e tocar. Uma sucessão de ótimos músicos participou da jam session que teve lugar mais tarde, inclusive George e Lonnie, Jeff Beck, Bill Wyman, Mick Jagger, Jack Bruce e Denny Laine.



George, Paul e Ringo também tocaram, faltando apenas John, que depois telefonou para dizer que também teria ido lá se tivesse sabido. Jamais saberei como isso aconteceu; basta dizer que não tive muito a ver com os convites; mas perdeu-se uma grande oportunidade de reagrupar os Beatles para uma última apresentação.

Pattie cometeu o erro de ceder nosso quarto para Mick Jagger, que estava no início de seu romance com Jerry Hall, de modo que não pudemos ir para a cama, o que achei completamente ridículo. (Páginas 219 a 221)



Sou um cara do interior, e sempre me considerei um pescador razoavelmente bom, mas na margem oposta havia uma dupla de pescadores profissionais, de carpa com uma barraca e tudo bem arrumado e bonito. Provavelmente estavam ali há um dia ou dois, e ficaram me observando. Eu estava bêbado e mal havia conseguido montar meu equipamento quando perdi o equilíbrio e cai em cima de uma das varas, partindo-a no cabo. Os outros pescadores testemunharam a cena, e vi que desviaram o olhar, embaraçados.

Ali deu pra mim. O último vestígio de respeito próprio havia sido arrancado. Na minha cabeça, ser um bom pescador era o único ponto onde eu ainda tinha certa auto-estima. Guardei tudo de novo, coloquei no porta-malas do carro e dirigi para casa. Peguei o telefone e liguei para Roger. Quando ele atendeu, eu apenas disse: “Você está certo. Estou encrencado. Preciso de ajuda”, e lembro que na mesma hora tive uma incrível sensação de alívio, misturada com terror, porque finalmente admiti para alguém o que vinha tentando negar para mim mesmo havia muito tempo. (Página 231)

No dia em que partimos, uma fria manhã de janeiro de 1982, Roger me pegou em Hurtwood e me levou para o Aeroporto de Gatwick. Eu estava um feixe de nervos. No vôo enxuguei toda a bebida do avião, de tão aterrorizado que estava porque nunca mais poderia beber de novo. Esse é o medo mais comum dos alcoólatras. Nos momentos mais baixos de minha vida, o único motivo para não cometer suicídio foi saber que não teria mais como beber se estivesse morto.

Depois de cerca de dez dias, comecei a gostar de estar lá. Olhava em volta e via algumas criaturas espantosas, às vezes verdadeiros azarados, que haviam estado em Hazelden quatro ou cinco vezes e tinham histórias muito piores que a minha para contar. Essas conversas me absorviam, e fui realmente estimulado por alguns dos indivíduos que estiveram lá, pessoas que estavam sóbrias há 20 anos ou mais. (Páginas 239 e 240)

Enquanto estávamos no Canadá, tocando no Maple Leaf Gardens, em Toronto, caí no fundo do poço, uma série de queda que por fim me levariam de volta a Hezelden. Andava bebendo pesadamente durante toda a turnê, e tinha sofrido um ou dois colapsos alcoólicos, como mini-ataques apopléticos. Nessa ocasião específica, comprei um pacote de seis cervejas que bebi muito rapidamente, e então dei de cara em um muro de desespero. Foi como um momento de clareza, no qual vi a absoluta degradação de minha vida naquele momento.

Comecei a escrever uma canção chamada “Holy Mother”, na qual pedia ajuda a uma fonte divina, um elemento feminino que não consegui sequer começar a identificar. Ainda amo essa canção, porque reconheço que veio do fundo de meu coração como um brado sincero de socorro. (Página 259)



O outono de 1985 encontrou-nos excursionando pela Itália. Estávamos fazendo show em Milão, e, depois de um deles, ele trouxe uma garota notavelmente atraente chamada Lori Del Santo. De fato, a energia entre nós era muito forte, do tipo que existe apenas quando você encontra alguém pela primeira vez. Apareci na porta de Lori, em Milão, surgido do nada, e disse que havia deixado Pattie e estava vindo morar com ela.

Por mais que desejasse dar o fora naquela ocasião, percebi que havia posto em marcha algo que estava fora de controle, especialmente por causa da conversa que havíamos tido sobre gravidez. Connor nasceu a 21 de agosto de 1986, no St. Marys Hospital, em Paddington. Lori retornou à Itália após o nascimento, e a idéia era que visitasse Conor e ela por alguns dias sempre que possível. (Páginas 267 a 277)

Um dia, encerrado no quarto do hotel, muito longe de casa, sem nada para pensar a não ser minha dor e miséria, entendi de repente que tinha que voltar a fazer tratamento. Pensei comigo mesmo: “Isso tem que parar”. Na verdade, fiz isso por Conor, pois pensei que não importava o tipo de ser humano que eu fosse, eu não suportaria estar perto dele daquele jeito. Não podia tolerar a idéia de que à medida que ele tivesse experiência de vida suficiente para formar uma imagem de mim, essa imagem fosse a do homem que eu era naquele momento. Liguei para Roger e disse para fazer outra reserva em Halelden, e, a 21 de novembro de 1987, voltei ao tratamento. (Página 279)

Quando minha internação estava chegando ao fim, o pânico me atingiu, e percebi que de fato nada havia mudado em mim, e eu estava voltando ao mundo mais uma vez completamente desprotegido. O ruído em minha mente era ensurdecedor, e a bebida em meus pensamentos o tempo todo. Fiquei chocado ao perceber que estava em um centro de tratamento, um ambiente supostamente seguro, e em sério perigo. Fiquei aterrorizado, em completo desespero.

Naquele momento quase que por si mesmas, minhas pernas cederam, e caí de joelhos. Na privacidade de meu quarto, implorei por socorro. Eu não atinava com quem estava falando, sabia apenas que havia chegado ao meu limite, não me restava mais nada para lutar. Então lembrei do que tinha ouvido falar sobre rendição, algo que e pensei que jamais conseguiria rezar, que meu orgulho simplesmente não permitiria, mas entendi que sozinho eu não teria sucesso, por fim pedi socorro e, caindo de joelhos, me rendi.

Em poucos dias percebi que havia acontecido alguma coisa. Um ateísta provavelmente diria que foi apenas uma mudança de atitude, e em certa medida é verdade, mas foi muito mais que isso. Encontrei um lugar a que recorrer, um lugar que sempre soube que estava ali, mas que nunca realmente quis ou precisei acreditar.

Daquele dia em diante ate hoje, jamais deixei de rezar de manhã, de joelhos, pedindo ajuda, e à noite para expressar gratidão por minha vida e, acima de tudo, por minha sobriedade. Prefiro me ajoelhar porque sinto que preciso ser humilde quando rezo e, com meu ego, isso é o máximo que posso fazer.

Se você está perguntando por que faço tudo isso, vou dizer... porque funciona, simples assim. Em todo esse tempo em que estou sóbrio, nenhuma única vez pensei seriamente em tomar um drinque ou usar alguma droga. (Página 281)


Não fugi de Conor, embora houvesse de início uma certa dose de medo envolvida em meu relacionamento com ele. Afinal de contas, eu era pai de meio expediente. À medida em que minha sobriedade cresceu, comecei a ficar mais confortável com ele e a realmente aguardar ansiosamente para vê-lo. Eu estava nesse astral quando, em março de 1991, me organizei para ver Connor em Nova York, onde Lori e seu novo namorado, Sylvio, planejavam comprar apartamento. No fim da tarde de 19 de março, fui ao Galleria, um edifício na West 57 Street onde eles estavam, pegar Conor para levá-lo ao circo em Long Island.

Foi a primeira vez que saí sozinho com ele, e tanto fiquei nervoso quanto empolgado. Aquilo me fez perceber pela primeira vez o que significava ter um filho e ser pai. Na manhã seguinte saí cedo da cama, e estava pronto para cruzar a cidade a pé do meu hotel, na Park com a 64 Street, para pegar Lori e Conor e levá-los ao Central Park Zoo, seguido de almoço.

Por volta das 11 da manhã o telefone tocou, e era Lori. Estava histérica, gritando que Conor estava morto. Pensei: “Isso é ridículo. Como pode estar morto?”, e fiz a mais tola das perguntas: “Tem certeza?”. E então ela contou que ele havia caído pela janela.

Falando com a polícia e os médicos, confirmei o que havia acontecido sem sequer ter que entrar no cômodo. A sala de estar principal tinha janelas que iam do chão ao teto em uma das laterais e podiam ser abertas para a limpeza. Porém, não havia grades na janela, visto que o prédio era um condomínio e fugia às leis normais de construção.

Naquela manhã, o faxineiro estava limpando as janelas e as havia deixado temporariamente abertas. Conor corria pelo apartamento brincando de esconde-esconde com a babá e, enquanto Lori estava distraída pelo zelador ao alertá-la sobre o perigo, Conor simplesmente correu pela sala, e direto janela afora.

Ele caiu 49 andares antes de se chocar contra o telhado de um prédio de quatro andares ao lado. (Página 291)

Os primeiros meses após a morte de Conor foram um pesadelo acordado; porém o estado de choque impediu-me de entrar em colapso total. Comprei uma casa em Londres e construí outra em Antígua. Não suportava ficar sozinho em Hurtwood depois do que acontecera.

Havia três anos que eu estava sóbrio, suficientemente recuperado apenas para não afundar, mas sem experiência ou conhecimento reais para ser capaz de lidar com uma dor daquela magnitude. Muita gente poderia pensar que seria perigoso ficar sozinho, que no fim eu beberia, mas eu tinha minhas amizades e minha guitarra. Ela foi, como sempre havia sido, minha salvação.



A mais forte das canções era “Tears in Heaven”. Sua criação e desenvolvimento mantiveram-me vivo através do período mais negro de minha vida. Quando tento retroceder àquela época, recordar a terrível dormência na qual vivia, recuo de pavor. A canção lançada foi um tremendo sucesso, a única número 1 escrita por mim, pelo que me lembro. (Página 302)

Em viagens recentes à minha casa em Galleon Beach, em Antígua, eu ficara cada vez mais desiludido com o número de viciados e bêbados que surgiam, ou talvez simplesmente estivesse reparando mais neles. Confidenciei a Chris e Richard sobre o caso e ambos disseram: “Bem, por que você não leva o programa para Antígua?” Perguntei como faria isso, e Chris respondeu na hora: “Você tem dinheiro, construa um centro de tratamento”. Minha resposta imediata: “Bem, vou construir se você for para lá administrá-lo".

Optar por ir em frente com o centro de tratamento foi uma das primeiras decisões que tomei sozinho, e a sensação foi ótima.

Escolhi cem guitarras da minha coleção para vender, além de vários amplificadores e diversas correias Versace. As guitarras, na maioria Martins, Fendrs e Gibsons, eram todas instrumentos clássicos. A Christie’s havia montado um catálogo fantástico no qual era destacada a “carreira” de cada guitarra. Minha Fender “Tobacco Sunburst” Start de 1956, conhecida como Brownie e na qual toquei “Layla”, foi comprada por estonteantes 450 mil dólares.

Foi um evento realmente extraordinário, arrecadando 4,452 milhões de dólares para a Crossroads Foundations, uma quantia além de qualquer sonho meu. Também aumentou enormemente a consciência sobre o que estávamos tentando fazer em Antígua. (Página 334)

No meio da turnê no Japão, durante uma longa temporada no Budokan, recebi a notícia de que George Harrison havia morrido de câncer no dia 29 de novembro (2001). Eu tinha acompanhado o estado de saúde através de um amigo comum muito chegado, Brian Roylance, que vinha passando cada vez mais tempo com ele à medida que sua saúde definhava.

Vi George pela última vez no final de 1999, logo depois daquele ataque brutal em Friar Park. Nós três sentamos na cozinha dele, enquanto George revivia a noite em que aquele sujeito maluco, Michael Abram, veio atrás dele com uma faca para matá-lo, crente que estava em “missão de Deus”.



Na primavera de 2002, Brian veio jantar e começamos a falar de George. Comentei que era triste não haver um memorial para George, ao menos em sentido musical, e Brian disse: “A não ser que você faça alguma coisa”. O programa foi uma obra de amor na qual me atirei. Tudo transcorreu bem e conseguimos agendar o Albert Hall para a noite de 29 de novembro, um ano depois da morte de George.

A única dificuldade surgiu em relação a quem deveria cantar "Something". No fim chegamos a um meio termo, e Paul McCartney e eu apresentamos "Something" em dueto. (Página 344)



Foi quando finalmente me separei de Blackie e da Gibson ES-335 vermelho-cereja, que eram minhas desde os Yardbirds. Foram as primeiras guitarras de verdade que tive, e na véspera do festival fui vê-las em exposição para dizer adeus. Foi difícil. Havíamos viajado muitos quilômetros juntos, e sabia que nunca encontraria outro instrumento que pudesse substituir qualquer uma das duas.

Os valores pelos quais foram rematadas foram inacreditáveis. Blackie saiu por 959,5 mil dólares, o que foi um recorde mundial pelo leilão de uma guitarra, enquanto a “Cherry Red” arrecadou 847,5 mil dólares, o maior preço já pago por uma Gibson. No total foram vendidas 88 guitarras, angariando 7.438.624 dólares para a Crossroads. (Página 353)

Convidamos nossos familiares mais próximos e um pequeno e seleto grupo de amigos para participar da cerimônia de batismo de Julie, e, no primeiro dia de 2002, na Igreja de Santa Maria Madalena, em Ripley, batizamos nossa filha de seis meses. Os pais de Melia estavam presentes, e minha tia Sylvia, e madrinhas e padrinhos. Foi uma cerimônia simples e comovente,e no final Chris anunciou: “Nesse ponto geralmente se faz uma oração de encerramento, mas os pais pediram uma coisa diferente”, e começou:

“Meus queridos, estamos aqui reunidos hoje para unir este homem e esta mulher em matrimônio”. Dá para ouvir um alfinete caindo naquele prédio antigo, mas foi como se dois mil alfinetes caíssem. Foi fantástico.

Em casa foi um período de alegria doméstica para mim e Melia, que se tornou mais feliz ainda com a chegada da segunda filha, Ella Mae, nascida em 14 de janeiro de 2003. Dia 1º de fevereiro de 2005 nasceu minha quarta filha, Sophie. Nesse ano completei 60 anos e, para celebrar, Melia organizou uma tremenda festança em Banquetinh House de Shitehall. Convidamos todo mundo que eu conhecia, até membros da banda “Glands”, alguns dos quais não via há 40 anos.

O ponto alto da noite foi escutar minha valente esposa fazer um discurso de improviso sobre mim, que me trouxe lágrimas nos olhos. (Página 356)
Subimos a bordo de nosso barco em setembro pra um cruzeiro de última hora, dessa vez ao redor das ilhas gregas e da Turquia. Agora que o barco era meu de fato, ficava me beliscando mentalmente, como se estivesse sonhando. Será que eu realmente tinha o direito de possuir algo assim? Um zé-ninguém de Ripley, sem noção de como ganhar dinheiro e sem nenhum respeito por ele tampouco, velejando por aí em um palácio flutuante de 150 pés? Parecia inacreditável.

Gostava apenas de ficar sentado em uma cadeira de praia observando as crianças brincarem n’água, e de vez em quando olhando para o mar onde nosso lindo barco estava ancorado. Realmente era um sonho. (Página 362)

Os últimos dez anos foram os melhores de minha vida. Repletos de amor e de um profundo senso de satisfação, não devido ao que percebo ter realizado mas pelo que me foi concedido. Tenho uma família amorosa, um passado do qual não me envergonho e um futuro que promete ser pleno de amor e riso.

Sinto-me realmente afortunado por ter condições de dizer isso, pois tenho plena consciência de que, para muita gente, a velhice representa o fim das coisas prazerosas, a investida gradual da fraqueza e da senilidade, e o arrependimento pela vida insatisfatória. Talvez eu sinta eventualmente as garras do medo ao avistar meus anos finais, mas nesse momento estou muito feliz e me sinto assim boa parte do tempo.




Estamos em 2007, e nesse verão ajudarei a organizar outro festival de guitarras da Crossroads, algo que aguardo ansiosamente. Alguns grandes músicos virão tocar e, com o passar do tempo, valorizo cada vez mais a chance de ouvi-los.

Graças a Deus que tantos deles ainda estão por aí. Nessa turnê, por exemplo, toquei com Doyle Bramhall e Derek Trucks, dois excelentes guitarristas que comprovam que o lance verdadeiro ainda está bem vivo. Tocar com eles me mantém jovem e me leva muito além de minhas limitações.

Os músicos com quem tive a honra e o prazer de tocar tanto no palco quanto em estúdio ao longo dos anos são por demais inumeráveis para mencionar, mas todos foram inesquecíveis por um motivo ou outro.

A música sempre vai achar um caminho até nós, com ou sem negócios, política, sexo, religião.

A música sobrevive a tudo e, como Deus, está sempre presente. Não precisa de ajuda, e não é obstruída.Ela sempre me encontrou e, com a benção e permissão de Deus, sempre haverá de me encontrar." (Página 394).



A autobiografia de Eric Clapton virou livro de cabeceira.

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A classe operária vai ao paraíso *


Liza Minnelli e Joel Grey cantam 'Money', em 'Cabaret' **

Um amigo, atento observador da cena, me chamou de marqueteiro. "Cada dia a tua lista de links está maior".

De fato, havia muitos endereços voltados a um público especializado. Se você busca o site de uma faculdade, sabe onde procurar, certo?. Marqueteiro? Eu fora!

Fiz a limpa. Imunizei amizades e quem gosto de graça.

Saíram do ar os veículos de comunicação – ficaram alguns que visito sempre, como o Coletiva.net, porque sintoniza o segmento que a minha turma lê.

Outro, que traduzo como Capa dos jornais do mundo, utilíssimo informativo para profissionais especializados como Eduardo Tessler, José Antônio Vieira da Cunha, Sílvio Bressan, Fabrício Cardoso, Flávio Porcello, Jakzam Kaiser, Nikão Duarte, Breno Maestri, Ricardo Stefanelli e Luiz Cláudio Cunha, entre tantos outros.

Dançaram também os sites de entidades, menos o do Sindicado dos Jornalistas/RS, da minha categoria.

Permanecem os blogs de política que leio todo o dia. Sujeito a alterações. Afinal, navego entre 9 milhões de blogs de internautas brasileiros. Sempre há novidade.

Poderia ter mantido a ‘listinha’, mas decidi valorizar quem produz informação qualificada e arte com talento. Como os blogs do Tutty Vasquez
, do Dennis D., do Ricardo Noblat e do Luis Nassif , só para citar alguns.

Meu conceito sobre marqueteiro é diverso do amigo. É quem vislumbra um negócio em
qualquer oportunidade.

Um exemplo. O Correio do Povo traz, na página 16 desta sexta-feira, 15, a notícia: “Acertador da Mega receberá R$ 104 mil/mês”. Trata-se do felizardo de Gravataí que ganhou sozinho R$ 20.498.366,41.

Ao lado da matéria, propaganda com título vermelho anuncia a venda de FAZENDA MONTADA NA BAHIA.

Ninguém sabe quem é o milionário. Sei que não foi o Evaldo Tibursky, nem o sogro dele; nem o Cláudio Dienstmann, tampouco meu médico Eduardo Lütz.

Apenas que a aposta foi feita na ‘Caminho da Sorte Loterias’, situada na Morada do Vale I. Pra quem desconhece, é um bairro-dormitório no subúrbio de Gravataí, que faz parte da Grande Porto Alegre.

O acertador gastou tão somente R$ 1,50. Contra a lógica. Afirmo, com precisão quase absoluta, que alguém da classe operária chegou ao paraíso.

E se acaso esse sortudo sonhou possuir uma fazenda com mil hectares de pastagens, mil cabeças de bovinos e uma lagoa com 50 hectares de espelho d’água?
A publicidade assegura ser uma “rara oportunidade”.

Quem teve a idéia de inserir o tal anúncio no Correio, ao lado da notícia indutora, é candidato a marqueteiro do ano. Mesmo sem querer pode ter acertado na mosca.

*
Homenagem ao Ricardo Garay, que faz 51 anos hoje.


** Liza Minnelli: Oscar de Atriz em 1972 por 'Cabaret'

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Uma rua chamada Luiz Figueredo *

A informação é tão boa que vou reproduzi-la na íntegra:

‘Luiz Figueredo será o nome da rua 1976, localizada no bairro Passo das Pedras, zona norte de Porto Alegre. É uma homenagem a Luiz José Biernfeld Figueredo, jornalista com importantes passagens por Zero Hora, Correio do Povo, Diário Catarinense e Rádio Gáucha, entre outros veículos. Figueredo morreu em fevereiro de 2007.’

A nota foi publicada hoje na coluna 'Informe Especial' de Zero Hora, cujo titular, o competente Márcio Pinheiro também exibe seus fantásticos conhecimentos no Blog Jogo da Memória. O Márcio é um arquivo ambulante.

Cumprimentos à sensibilidade da autora do projeto, vereadora Neuza Canabarro, do PDT.

A família de Luiz Figueredo certamente deve estar emocionada com mais essa justa homenagem.


* Leia 'Em memória de um grande jornalista', em 12/2/2008.

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Barack Obama, presidente dos Estados Unidos

Comecem a se acostumar porque é fato consumado.

Ao esmagar Hillary Clinton nas três primárias de ontem (75% em Washington D.C., 67% em Maryland e 64% na Virgínia), Obama ultrapassou a senadora pela primeira vez na disputa dos democratas.

Obama totaliza 1.223 delegados contra 1.198 de Hillary.
Ganhou até agora em 22 dos 35 estados. As últimas oito consecutivas, no estilo 'rolo compressor'.

Há muito chão pela frente; é necessário obter 2.025 delegados para conquistar a candidatura à Presidência.

Mas é irreversível. A Obamania tomou conta dos EUA.

No discurso de ontem, assumiu a candidatura e foi direto ao ponto quando repetiu a frase que deve virar bordão para derrotar o republicano John McCain.

Após afirmar que o respeita como veterano herói da guerra do Vietnã, Obama fulminou seu adversário:

- McCain disse outro dia que nós podemos ficar
cem anos no Iraque. É razão suficiente para não lhe dar quatro anos na Casa Branca.

O público delirou. E vai eleger Obama presidente.

Barack Obama e sua esposa Michelle vão ocupar a Casa Branca

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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Em memória de um grande jornalista *



A vida passa com a velocidade da luz.

Há pouco recebi mensagem no celular que dizia:

“Missa de um ano do pai hoje, 18h30min, na Catedral”. Chegou em meu visor às 17h52min.

Enquanto tentava localizar a autoria, abri o site Coletiva.net. E aí caiu a ficha. Dizia a nota:

‘Nesta terça-feira, 12, completa um ano que faleceu o jornalista Luiz Figueredo. Suas filhas e neto convidam amigos e colegas para missa em sua memória, que será realizada na Catedral Metropolitana de Porto Alegre.'

E a nota acrescenta: ‘Aos 61 anos, o profissional foi vítima de um infarto agudo no miocárdio. Figueredo foi colaborador e gestor dos principais veículos de comunicação do sul do Brasil, como Zero Hora, Correio do Povo, Diário Catarinense e Rede Pampa’.

À Terezinha, sua esposa e minha querida amiga, às filhas, à mãe, irmãos – e ao neto Bernardo, que recém completou um ano de vida -, lamento não ter prestado mais esta homenagem ao grande jornalista e amigo.

Resta-me o consolo de relembrá-lo ao postar esse texto que escrevi e foi publicado no Coletiva.net em 22/2/2007:

'O último desejo de Luiz Figueredo'

Bernardo Grinstein Figueredo veio ao mundo às 10h30min do dia 7 de fevereiro, com três quilos e 420 gramas, através de cesariana. Na foto acima, feita na estufa do centro obstétrico do Hospital Luterano da Ulbra, bairro Petrópolis, em Porto Alegre, estão, da esquerda para a direita, os corujíssimos avós Terezinha e Luiz; a tia de Bernardo, Ana Luiza; a irmã de Luiz, Maria da Graça (de óculos); e, apontando o dedo, a jornalista Bela, outra tia do recém-nascido.

Domingo de carnaval, dia 18, em sua casa, na rua Criciúma, bairro Guarujá, próximo ao rio Guaíba, ao lado das cinco filhas – Maria da Graça, 34 anos; Ana Luiza, 32; Bela, 30; Maria Inês (mãe de Bernardo), 27; e Ana Clara, 23, Terezinha olhava a foto emocionada e rememorava aquele dia que, jamais imaginava, seria tão especial:

- Estávamos ansiosos, era o primeiro neto, quando a Ana Luiza ouviu que o Bernardo havia nascido e veio nos contar. O Figueredo, que andava muito calado, saiu contente a ligar pra todo mundo. Só depois soubemos que ainda não era a hora do parto. Ele ficou um pouco apreensivo. Mas logo veio a confirmação e foi um grande alívio.

A foto aqui reproduzida infelizmente não faz justiça à euforia que tomou conta daquele senhor de camisa branca, semi-encoberto. Junto a Terezinha, de quem estava separado, aos 61 anos vivia a experiência de estrear o papel de avô. E o fazia como guri quando ganha brinquedo novo, ao disparar torpedos carinhosos através da vidraça:

- Como ele é lindo! Grandão! Tem uma cara de homenzinho! É o Bernardão!

Era o Figueredo ternura de tantos e tantos anos atrás, quando suas filhas pequenas circulavam em volta do pai na antiga redação de Zero Hora. Terezinha recorda que João Aveline dividia com ele os afazeres na chefia da redação na época. E costumava brincar a respeito do apego familiar do colega daquele jeito tão debochado e característico quanto saudoso do velho Aveline:

- O Figueredo parece um bugio; quando a gente se aproxima, ele levanta uma filha!

PROFUNDAMENTE RELIGIOSO

Há situações em que só se encontra resposta na espiritualidade. Ainda pequena, a filha mais velha, Maria da Graça, contraiu grave doença, que exigia rigoroso tratamento médico. Apesar do diagnóstico, o casal teve fé e fez corrente de orações ao Menino Jesus de Praga. Certo dia, após uma consulta, o médico anunciou que a menina estava curada. Terezinha e Luiz quase não acreditaram.

Figueredo era profundamente religioso. Foi católico, foi espírita, terminou luterano. Inesquecível a forma como se despedia das filhas:

- Que o anjo da guarda te proteja.

Afora a família, para quem dedicava todo amor, só tinha prazer no trabalho. Sua jornada raramente registrava menos de 15 horas diárias. Com o nascimento de Bernardo, Terezinha notou uma grande mudança de comportamento, tanto que andava muito calado:

- Nos últimos dias ele passou a ter pressa para resolver tudo.

O gordo Fig, apelido recorrente, sempre teve uma relação amistosa com a ex-esposa, mas, ao contrário do jeito expansivo com que tratava os amigos, era retraído na família.

Seu coração, emocionado com o título mundial do Inter - outra paixão - e o nascimento do neto, comoveu-se mais uma vez ao retornar à rua Criciúma depois de tanto tempo. Comemorou com seus colegas na Ulbra, conforme relato:

- Imaginem que depois de 18 anos almocei na casa da Terezinha!

Eufórico, projetava um futuro bem diverso da vida solitária que levava em sua casa de Canoas, ao lado do fiel cão capa-preta Jimmy. Nos planos, certamente estava incluído Bernardo:

- Esse meu neto veio para mudar a minha vida.

Não teve tempo. Na manhã de 13 de fevereiro, quando a faxineira tentou entrar na casa, Jimmy não deixou. Foi necessário um adestrador retirar o capa-preta a fim de permitir a remoção do corpo de Figueredo, que sofrera um ataque cardíaco em torno das 21h da noite anterior.

- As pessoas buscam explicações para sua morte; meu pai morreu porque era a hora dele – conforma-se a filha Bela.

MUITO MAIS QUE PAI

O legado material de Figueredo é modesto como a vida que levou.

- Ainda não estivemos na sua casa para recolher os pertences, mas tenho certeza de que não guardou nada do passado. Meu pai não vivia de recordações, para ele só importava o presente – assegura Bela.

Inestimável é o legado profissional de Luiz Figueiredo. Sua extensa e rica biografia, aliada à solidária presença de centenas de amigos nos atos fúnebres realizados no Crematório São José, o testemunham.

Na ocasião, Hamilton, o oitavo dos dez irmãos, leu um texto de autoria própria, que iniciou com a seguinte frase:

- Esta é a história de um garoto que desde pequeno esbanjava talento.

E finalizou comovente:

- Sua trajetória de vida representa todos aqueles valores que sempre foram cultivados dentro da nossa família. Luiz: te agradecemos por termos partilhado diversos momentos contigo!

Portanto, é fundamental registrar, com a devida ênfase, os atributos desse extraordinário ser humano. No Perfil de Figueredo (publicado no Coletiva.net em 02/10/2005), Bela escreveu no espaço destinado aos comentários: "... meu pai é o cara mais sensível e inteligente de que já tive notícia e isso não é Complexo de Electra mal resolvido".

Jornalista, Bela reafirma o ditado de que o fruto não cai longe do pé. Demonstra sagacidade quando racionaliza baseada em fatos para justificar seus argumentos. E presta um belíssimo tributo que transcende a figura paterna ao destacar a grandeza do homem:

- Meu pai viveu como quis, gostava de uma boa mesa, comeu a lata de figo que quis, com calda e tudo. Ele adorava trabalhar, nada lhe dava mais prazer. Sempre esteve presente nas nossas vidas. Fazia qualquer coisa para evitar que a gente passasse dificuldade. Muito mais que pai, foi amigo. Nossos amigos foram amigos dele, conversava e bebia com eles. Não tinha preconceito contra ninguém; para ele não havia gay, negro ou judeu, era todo mundo igual. Foi uma bênção ter sido filha dele.

A SABEDORIA DA MÃE

Na missa de 7º dia, realizada dia 19/2, na Igreja Santa Rita de Cássia, zona sul da capital, além de Terezinha e as filhas, compareceram seis dos nove irmãos de Luiz: a professora Maria da Graça, 58 anos; a advogada Suzana Maria, 55; o farmacêutico Marco Antônio, 51; o engenheiro agrônomo Hamilton, 50; a funcionária pública Simone, 42; e o empresário Alexandre, 36. Ausentes o engenheiro mecânico Francisco Sérgio, 59; o empresário Antônio Carlos, 57; e o engenheiro químico César Augusto, 54.

À frente do clã, a mãe Norma Biernfeld Figueredo, de 80 anos. Viúva do militar da Aeronáutica Francisco Furtado, autodidata e autor de três livros sobre magnetismo, antes de morrer, aos 75 anos.

Ativa freqüentadora da Ulbrati (sigla da Ulbra Terceira Idade). Tão atuante que, quando completou dez anos de convivência no grupo, escreveu o livro autobiográfico: "Sonhar é a arte de reinventar a vida".

Dona Norma, diz que Luiz sempre foi despojado, nunca de ostentar. A impor autoridade, preferia o diálogo. Nesse aspecto ela o comparou ao marido, que na família incentivava as conversas e aguçava a curiosidade a respeito dos mais variados assuntos. O que resultou nas escolhas dos filhos por diferentes profissões.

Catarinense nascida em Canoinhas e criada em Campo Alegre até os 20 anos, quando veio residir no Estado, a simpática senhora transmite uma exemplar lição de lucidez e sabedoria. Conforma-se com a perda do primogênito, sem deixar de ressaltar o significado de sua passagem pela vida:

- Guardo dele a imagem de um homem sereno, preocupado com a mãe e os irmãos, dedicado à família. Não tinha o raciocínio das pessoas comuns, era abrangente e agregador. Elegante no trato e no convívio, raramente dado a explosões. Meu filho era aquele tipo de gente que parece ter vindo ao mundo para cumprir uma missão; que se doa e é sugado até esgotar e quando a chama se apaga vai embora, mesmo jovem.

CINZAS AO MAR

Quem prestou atenção à primeira linha desse texto deve ter-se dado conta de que o netinho Bernardo recebeu 'Figueredo' como último sobrenome ao invés de 'Grinstein', que pertence ao pai. A mãe da criança, Maria Inês, justifica essa pequena subversão da ordem onomástica como uma derradeira homenagem:

- Tomei a decisão para que o nome do avô seja lembrado no futuro.

Há ainda o último desejo, que será cumprido neste fim-de-semana. As cinzas de Figueredo irão com as filhas até a praia de Ibiraquera, no litoral catarinense. Ele sonhava construir sua casa em um rochedo à beira do mar - por quem era apaixonado. Ali repousarão suas cinzas.

Haverá lágrimas no rito de despedida do amantíssimo pai Luiz José Biernfeld Figueredo.

Choro pelo pequeno Bernardo. Ele ainda não sabe o avô que per
deu.

* As cinzas de Luiz Figueredo foram depositadas durante cerimônia que reuniu familiares e amigos, no dia 3 de março, na Praia da Guarita, em Torres (RS).

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