Blog do Emanuel Mattos

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Quero meu dinheiro de volta *

Iniciei 2008 decidido a cortar gastos. Não é tarefa fácil. Paguei o IPTU antes do prazo a fim de ganhar o desconto de 20%, diminui o valor do cheque especial e restringi as opções do pacote caríssimo da Net.

Também resolvi cancelar um dos jornais que assino. Olhei meu extrato: já foram cobrados adiantados 19,00 mensais ao Correio do Povo e 49,90 para Zero Hora.

Pelo valor, a escolha deveria ser óbvia. Há, porém, outros componentes. Procurei ser criterioso.

Zero Hora custa o dobro, mas oferece ótimas opções de colunistas: Verissimo, Paulo Sant’Ana, David Coimbra, Sérgio Faraco, Martha Medeiros, Flávio Tavares, Falcão, Sérgio da Costa Franco, Cláudia Laitano, Mário Marcos, Dione Khun, Márcio Pinheiro, Lurdete Ertel, Wianey Carlet, Luiz Zini Pires e Nílson Souza, entre outros.

Já o Correio possui menos alternativas interessantes nessa área. Perderia as colunas de Juremir Machado da Silva, Elio Gaspari, Denise Nunes e Hiltor Mombach.

Então comparei o noticiário das últimas edições.

Embora ZH tenha 48 a 64 páginas em média e o Correio entre 24 e 28 – sem contar os cadernos e classificados - a escolha foi fácil. Justifico:

Correio do Povo de 28 de dezembro traz na capa a manchete: “Russos planejam investir no RS”. Reproduzo o início da matéria:

“Uma planta industrial para a montagem, no Rio Grande do Sul, de veículos destinados às Forças Armadas está em negociação, há vários meses, entre o governo do Estado e a estatal russa Rosoboronex. O grupo russo é uma holding controladora de empresas, entre as quais a Lada, a Helicopter MI e a fabricante de aviões Mikoyan-Gurevich (MIG).”

Detalhe: a fonte é a própria governadora Yeda Crusius.

Zero Hora desta data: nenhuma linha a respeito.

Correio do Povo, 3 de janeiro. A capa estampa foto do presidiário mais famoso do Estado, Cláudio Adriano Ribeiro, o Papagaio, sorridente, com o polegar erguido. Na página 25, uma sensacional entrevista à repórter Luciamem Winck.

O título principal é “Papagaio: crime é viagem sem volta”. A linha de apoio: “O criminoso se diz arrependido, promete sair da cadeia pela porta da frente e não mais tocar em arma”.


Na segunda retranca, “Meta é continuar vivo e ter vida normal”, cinco declarações em destaque:

“A droga é o passaporte para o crime”.

“Nunca deixei que ninguém da minha família entrasse para essa vida bandida”.
“Vou ter força e continuar lutando de cabeça erguida para reconquistar a minha liberdade”.
"No sistema penitenciário quem quer mudar precisa lutar por si”.

E a lição final: “O ser humano tem uma capacidade enorme para fazer tudo o que quiser, inclusive errar. Mas quando quer, tem condições de mudar”.

Zero Hora desta data: nenhuma linha a respeito.

Correio do Povo do mesmo dia 3 de janeiro. Taline Oppitz inicia a coluna Panorama Político com a nota “A metralhadora giratória de Dirceu”. Seu conteúdo:

“A revista Piauí deste mês, que chegou ontem às bancas de São Paulo, traz entrevista bombástica com o ex-ministro José Dirceu. Em 12 páginas, ele não poupou detalhes de elementos de sua relação com o Planalto, atacou correntes internas do PT e revelou conversas com o empresário Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Lula.

O deputado Raul Pont também não escapou das críticas: "Ele fica falando que o partido não precisa de coligação. Tenha paciência. O que fizemos por esse pessoal não é brincadeira e eles não ajudam nada, só dão pau."

E continuou. Segundo Dirceu, a construção da sede do PT em Porto Alegre "foi feita só com dinheiro de caixa 2. Era uma mala de dinheiro". A revista chega ao Estado na segunda-feira - finaliza a colunista.

Zero Hora desta data: nenhuma linha a respeito.

Diante do quadro, decidi: mantenho a assinatura do Correio e passo a ler os articulistas de ZH na Internet.

Assim vou economizar mais 49,90 por mês.


E quero o valor que paguei em janeiro de volta.

* Homenagem à Vick, que vai desfilar pela Mangueira.

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9 Comentários:

  • Emanuel, li tua coluna ainda na madrugada. Sem palavras. Realmente faz a diferença. As comparações são incontestáveis! Da minha parte, agradeço a citação do meu nome e do resultado do meu trabalho. Jornalismo é isso. É furo!! Abraços!

    Por Anonymous Anônimo, Às 4 de janeiro de 2008 às 08:53  

  • Emanuel. Faz tempo que torço para a "virada" neste oligopólio em que se transformou nosso mundo midiático impresso (gostou da empolação?hehe). Tomara que esta arrancada se mantenha e o velho Correio, de que tanto eu quanto tu fizemos parte, volte a seus áureos tempos. Parabéns a Luciamem, um exemplo de jornalista que nunca se permitiu cair na maldita rotina do laisser faire (ih. de novo)
    bj

    Por Blogger ninguém, Às 4 de janeiro de 2008 às 13:07  

  • Caro Emanuel,
    esse foi o melhor cartão de votos de feliz ano novo que recebemos aqui no Correio!!!
    obrigado,
    Luiz Cláudio Costa

    Por Blogger luiz costa, Às 4 de janeiro de 2008 às 15:52  

  • Acompanho o trabalho da "Lu" Winck tem vários anos. Furangadora, xereta, insolente... O Papagaio estava lá... Mas não queria falar com ninguém... Mérito dela!!! Parabéns ao Correio do Povo que vem aguerrido e incomodando a turma da Azenha.

    Por Anonymous Anônimo, Às 4 de janeiro de 2008 às 21:47  

  • Que análise hein? Deus o livre....Muito boa querido! Beijãooo Tati

    Por Anonymous Anônimo, Às 5 de janeiro de 2008 às 10:56  

  • Você não tem medo de falar tão claramente da "imprensa" local?

    Por Anonymous Anônimo, Às 5 de janeiro de 2008 às 12:44  

  • Emanuel
    Emocionante comparação e fiel. Para quem, como nós, já trabalhamos (ainda estou no Correio, de licença, mas quero voltar) nos dois jornais, é muito importante mostrar os fatos. ZH tem muito marketing e nem tanta informação. O CP, com estrutura mais enxuta, começou com a entrada da Record a apostar no marketing e já faz a diferença. Sou daquelas, como a Maristela, que defende e aprecia uma "virada" neste oligopólio. Com uma diferença. Quem trabalhou lá nos últimos anos, como eu, sabe que a gente já dá de 10 na ZH em muita coisa.
    E, finalmente, não poderia dizer que nada disso teria sido possível se o Correio não tivesse abrigado esta grande jornalista chamada Luciamem Winck quando ela foi demitida de ZH. A Lu é daquelas pessoas que não nega fogo, não recusa pauta, não rejeita coletiva, sempre vê que um pontinho preto qualquer no chão pode render muito. É uma batalhadora. Bjs. É bom ver comentários como os teus...Eu só não os faço por estar ligada (vínculo empregatício, embora esteja no INSS) ao Correio do Povo, o que seria falta de ética.

    Por Blogger Marcinha, Às 6 de janeiro de 2008 às 00:38  

  • Emanuel
    Na pressa de postar cometi um erro imperdoável. Onde lê-se "Para quem, como nós, já trabalhamos", leia-se "Para que, como nós, já trabalhou....
    e uma question...porquê maristela sai com foto ??

    Por Blogger Marcinha, Às 6 de janeiro de 2008 às 00:42  

  • Luciamem: Tu és referência na profissão desde os tempos em que trabalhamos juntos na ZH, nos anos 80 - editei Polícia quando o titular da área, Wanderley Soares, enfrentava problemas de saúde na família. Até o Papagaio respeita o teu currículo.
    Maristela: A melhora do Correio depois da aquisição pelo Grupo Record é visível em cada edição. Sem censuras ou vetos, o jornal retoma seu caminho, do qual foi afastado por culpa dos últimos gestores, que não eram do ramo e usaram a Caldas Júnior como anteparo. Há pouco a Incobrasa (dos ex-donos do Correio) livrou-se de pagar mais de R$ 100 milhões de ICMS devidos ao governo do Estado porque a ação prescreveu...
    Luiz Cláudio: tenha certeza de que o texto publicado refletiu meu sentimento como jornalista e assinante de dois veículos que considero da maior relevância.
    O Correio tem sido uma agradável surpresa a cada nova edição.
    João Guilherme: a resposta inicial à Luciamem só referencia o que escreveste. Abraço.
    Tatiane: Grato pela observação. A análise foi bem criteriosa, tanto que citei fontes e datas. Beijão.
    Carmencita: ao contrário. Tenho convicção de que, ao expor os fatos claramente estou contribuindo com a profissão. A governadora Yeda, o presidiário Papagaio e a revista Piauí foram as fontes das três notícias exclusivas do Correio. Pode-se se fazer um jornal bonito com a bunda na cadeira, em uma redoma. Mas jornalismo é conteúdo. A ZH tem repórtes de alto nível, porém a acomodação é geral. Tanto que o Prêmio ARI de reportagem de 2007 foi conquistado pelo Diário Gaúcho, com o meu amigo Renato Dorneles (que, por sinal, trabalhou com a Luciamem Winck na Polícia de ZH).
    Marcia Fernanda: Como diz o Lula, estou convencido de que o novo Correio vai contribuir, e muito, para a melhoria da profissão. A ZH com certeza é um canhão, apenas precisa ajustar a pontaria. Quanto a foto da Maristela, é simples, ela tem blog no Blogger/Google e eu também. Aí, quando posta uma mensagem a foto aparece automaticamente. E cadê o teu blog, afinal? Beijão.

    Por Blogger Emanuel Gomes de Mattos, Às 6 de janeiro de 2008 às 08:44  

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