Blog do Emanuel Mattos

sábado, 15 de dezembro de 2007

Infâmia


A história da civilização é pontuada de conflitos iniciados por motivos banais. E ao final se constata que tanta violência poderia ter sido facilmente evitada.

Exemplo clássico foi a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha, derrotada na Primeira Guerra (1914-1918) vivia isolada diplomaticamente do resto da Europa, por pressão da Inglaterra e França. Erro político grosseiro. Discriminada, a população germânica apoiou Hitler, um nacionalista histérico e seu ideário mirabolante.

Conseqüência: de setembro de 1939 a agosto de 1945, 72 nações envolveram-se em monumental confronto que matou 50 milhões e deixou 28 milhões mutilados.

Dois fatos infames são lembrados com horror: a morte de seis milhões de judeus depois de serem humilhados em campos de concentração, e o bombardeio atômico das cidades japonesas de Nagasaki e Hiroshima quando a guerra praticamente estava terminada.

Mas o ser humano não aprende. E repete os equívocos.

Hoje mesmo, na contramão do espírito natalino, um jornal gaúcho destaca na capa a foto de dois pobres circulando entre os carros no sinal fechado.
A manchete é implacável: “Intimidação na esquina”.
E a legenda justifica: “A proliferação de pedintes adultos em cruzamentos de Porto Alegre deixa motoristas acuados e receosos de sofrer retaliações.”

O olho da matéria diz: “Cada vez mais agressivos para pedir dinheiro, adultos assustam os motoristas nas esquinas, obrigando-os a desrespeitar regras de trânsito como ao parar antes nas sinaleiras da cidade”

Uma retranca mapeia sete esquinas que são intituladas como “Os pontos de extorsão”. E reproduz o desabafo de um pedinte a alguém que deve ter xingado o coitado:
- Tu não é obrigado a me ajudar, me deixa trabalhar.

Resumo: tal espaço jornalístico que deveria ter tido destinação mais nobre, como discutir o planejamento familiar ou apontar as razões que levam um número cada vez maior de pobres a essa condição miserável, pode servir de pretexto para acirrar os baixos instintos.

Diante do exposto, reproduzo o parágrafo inicial:

A história da civilização é pontuada por conflitos iniciados por motivos banais. E ao final se constata que tanta violência poderia ter sido facilmente evitada.

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4 Comentários:

  • A proliferação do poder econômico mal utilizado

    Fiquei perplexa ao ver um espaço tão nobre do jornal destinado a um assunto que não é de polícia e nem de intimidação. É de injustiça social. É de falta de educação neste país. É da consolidação de monopólios econômicos. A legenda é pior ao dizer que a proliferação de pedintes deixa os motoristas acuados e receosos de sofrer retaliações. Acho que a legenda poderia ser "deixa os motoristas com medo de não mais se indignarem"
    abs
    márcia fernanda peçanha matins

    Por Blogger Marcinha, Às 15 de dezembro de 2007 às 17:27  

  • Fiquei estarrecida com a capa de ZH em que estampa a foto de um rapaz apontando o DEDO para uma mulher. De longe pensei que fosse uma arma. Mas foi só mais um segundo de atenção para ver que não era arma ou intimidação. Era preconceito. certamente quem fez a capa esqueceu-se ou não o que está escrito nas páginas 14 e 17 do recém-lançado Guia de Ética, Qualidade e Responsabilidade Social. Na página 14 - A RBS veta qualquer forma de discriminação;
    Na poágina 16 - Começa assim: Qualquer pesoa, entidade, empresa, governo ou organismo que sofra alguma acusação deve ser entrevistado e ter sua versão divulgada, quando possível, simultaneamente com a notícia.
    Por que não entrevistaram o rapaz que estava em tese ameaçando todo mundo? Os jornalistas já sqabem entrevistas as pessoas com câmeras escondida? Jornalismo de cara limpa não vale Mais????
    abs
    Jacqueline Iensen

    Por Anonymous Anônimo, Às 17 de dezembro de 2007 às 09:53  

  • Olá, meu querido. De fato, o ser humano vale pelo que tem e ninguém se lembra mais o que seja realmente um ser humano. Quem vive em dificuldades e pede ajuda é um estorvo para a sociedade, que só tem lugar para os "campeões. Às vezes, penso que ando de cabeça para baixo nesse mundo, pois não consigo suportar os cultivadores do individualismo, os que só pensam no "meu computador, meu carro, meu emprego (que eu consegui pisando no pescoço de alguém, mas o mundo é dos mais fortes)... o meu, o meu, o meu."
    Tu lembraste a segunda querra mundial, que matou sim seis milhões de judeus, mas matou também 20 milhões de russos, outros tantos milhões de ciganos. E que dizer dessa insanidade recente dos EUA, no Iraque, destruindo o berço da humanidade? Não sou religiosa, sabes e, por isso, me junto à voz do Lobão, que em uma música pergunta: "quem é que vai pagar por isso?" Quem sabe, mais adiante (ou do outro lado) exista um mundo que seja realmente para todos. Um beijo da Marcia Camarano

    Por Anonymous Anônimo, Às 17 de dezembro de 2007 às 12:14  

  • Emanuel. Eu sou uma das paranóicas que fica a metros de distância dos carros da frente caso me sinta acuada, como tem acontecido seguidamente. Já fui mais corajosa. Já fui até mais tolerante. A idade está me deixando covarde e cada dia mais braba. Não suporto mais ouvir e ver notícias sobre nossa abundância econômica enquanto as ruas me dizem o contrário.
    abraço

    Por Blogger ninguém, Às 17 de dezembro de 2007 às 23:33  

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