Blog do Emanuel Mattos

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O cadáver insepulto de Evita Perón


Aconteceu, afinal, o anunciado encontro entre Lula e a futura presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Três dias antes de vencer no primeiro turno, com 8.650.990 votos (45,29%), Cristina prometeu que sua primeira viagem seria a Brasília. Não cumpriu, pois foi ao Chile de Michelle Bachelet participar da XVII Cúpula Iberoamericana.

É a primeira mulher eleita para o cargo majoritário na Argentina. Isabelita Perón, que era vice, assumiu o governo depois que Juan Domingo Perón morreu. Governou entre julho de 1973 e março de 1976, até ser derrubada pela ditadura.

Antes das duas, porém, houve o mito Evita Perón, a mãe dos pobres e protetora dos ‘descamisados’, responsável pela popularidade do general que presidiu a Argentina pela primeira vez entre 1946 e 1955 (foi reeleito em 1951 e deposto pelos militares).

Muito já se escreveu sobre esse período. Ninguém obteve o êxito espetacular de Tomás Eloy Martinez com o fantástico “Santa Evita”.

“Todo bom romancista é, de algum modo, um detetive”, diz Martinez, “pois manipula verdades que parecem mentiras e cria mentiras que se tornam verdades, e acaba acreditando que aconteceram exatamente dessa forma, embora ele as tenha inventado. Portanto, nesta condição, a única coisa que o escritor não pode é provar a veracidade daquilo que escreve”.

Delson Biondo, em 'Santa Evita, um romance histórico', analisou: "Neste jogo de mentiras verdadeiras, Martínez vai deixando em seu romance pistas que auxiliam ou advertem o leitor sobre os perigos dessa artimanha.
Talvez por isso Martínez deu a “Santa Evita” a forma de reportagem. Foi o modo mais convincente que encontrou para conferir verossimilhança a uma história completamente inverossímil. Assim o autor também se transforma num personagem que conhece e entrevista outros personagens do romance (embora nunca tenha realmente entrevistado todas as pessoas mencionadas). Ao leitor caberá a tarefa de descobrir o que é verdade e o que é mentira".

Foi prazeroso ler “Santa Evita”, oitavo lugar na lista dos 100 romances mais importantes escritos em língua espanhola nos últimos 25 anos. E o autor abordou o tema com uma coragem extraordinária.
A respeito, Gabriel García Márquez sintetizou na última capa do livro:

“Quando Eva morreu, em 1952, seu marido, o general Juan Domingo Perón, ordenou que seu corpo fosse embalsamado e exposto à nação argentina numa redoma de vidro. Três anos depois, quando o ditador caiu, o cadáver de Evita tornou-se um fardo pesado demais para qualquer regime.

Assim teve início uma das mais insólitas peregrinações de que se tem notícia. Seqüestrado pelo Serviço de Inteligência do Exército, o cadáver vagou semanas pelas ruas de Buenos Aires, estacionou durante meses nos fundos de um cinema, prestou-se a todo tipo de paixões no sótão da casa de um capitão desmiolado até reaparecer, 16 anos mais tarde, no Velho Continente.

Enfim, o romance que eu sempre quis ler”, finaliza García Márques.

E você, ainda não leu?

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2 Comentários:

  • Faltou dizer de que sebo saiu o livro.

    Por Blogger Caco Belmonte, Às 16 de dezembro de 2007 às 23:14  

  • Caro amigo Caco, adquiri meu exemplar do romance 'Santa Evita', editado pela Companhia das Letras, por encomenda na Livraria Cultura. Mas esses dias vi um exemplar naquele sebo na subida da rua da Ladeira (do saudoso Tuim), à esquerda, próximo à Riachuelo. Vai lá correndo que ainda pode estar disponível. Forte abraço.

    Por Anonymous Anônimo, Às 17 de dezembro de 2007 às 08:34  

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