Blog do Emanuel Mattos

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Meus caros amigos de Floripa

1986: Emanuel, Zini, Breno, Jakzam e Pedro no Diário Catarinense

O Paulo Sant’Ana foi pura emoção na sua crônica dominical de Zero Hora em 18 de novembro. Alguns trechos: “(...) neste verão vou ao encontro de um dos meus cinco últimos prazeres: ficar sentado debaixo de um guarda-sol (...) na minha frente uma lâmina de água azul iluminada pelos raios fortes de sol em Florianópolis. Fico ali durante quatro ou cinco horas, as mais felizes da minha vida”.

Lembro bem dessa paixão. De férias, ele foi meu hóspede na casa em que morei no verão de 1986, quando participei do grupo que lançou o Diário Catarinense. Como eu ainda não tinha trazido os móveis, o Sant’Ana passou duas semanas em condições precárias: numa com a mulher, na outra com o filho. Ele dormia no chão, feliz da vida. Hoje possui residência própria no norte da Ilha. Mas não esqueceu dessa época, que recordamos há dias em uma confraria.

Daquele tempo guardo a foto acima, feita em uma das salas do prédio onde ainda hoje é a sede do Diário Catarinense, no bairro Itaguaçu. Foi num sábado. À noite houve uma incrível festa à fantasia num sítio em Massiambu, local desconhecido pela maioria. Tanto que alguns sequer conseguiram encontrá-lo, como foi o caso do Sérgio Bueno. No dia seguinte ríamos dos relatos de quem botou os nativos pra correr ao pedir informações vestindo trajes bizarros.

Na foto, da esquerda para a direita, esse relator (já apelidado de “Sultão” – leia o texto “O Sultão em Tempos Heróicos”, de 9/11) -; Luiz Zini Pires - hoje na Zero Hora – (segurando o suplemento literário com o título “Cervantes”); Breno Maestri, com aviso afixado “O Próximo” (recado à ZH de que viria para o Diário), e Pedro Macedo (auto-intitulado “O Fodão do DC”), tendo atrás dele o escritor aventureiro e editor da Letras Brasileiras, Jakzam Kaiser.

Os cinco fizeram parte da equipe que produziu a quantidade recorde de exatas 50 edições experimentais antes de ser lançado o Diário Catarinense, em maio daquele ano, depois de dois adiamentos. Como pode atestar o diretor industrial Cláudio Sá, um dos pioneiros.

Da festa à fantasia participaram, além dos citados, a Chuchi Silva, Eduardo Tessler, Sílvio Bressan, Paulo Bordin, Sérgio Homrich, Milton Rauber, Francisco Schuster e Éber Borba. Devo ter esquecido a metade. Todos com exóticas produções, comprovadas em fotos.

Há dias enviei um e-mail ao Sílvio Bressan, que vive em São Paulo, pois não tenho nenhuma foto com ele presente. A resposta veio debochada: “Eu estava, mas como um discreto 'Dick Tracy' que não chegou a ser muito notado diante de tantas 'divas' esfuziantes.”

Faço esse registro afetivo porque interrompo alguns dias a postagem a fim de retornar à Ilha de Santa Catarina, onde vivem o Breno e a Chuchi (com os filhos Enzo, Franco e Gianna); o Jakzam e a Tetê (com os filhos Gabriel e Felipe), a Jacqueline Iensen, o Paulo Scarduelli, entre tantos que pretendo rever. Vou como convidado a testemunhar o compromisso amoroso de um casal muito querido.

Na crônica citada no início, Paulo Sant’Ana diz que “o prazer se consagra quando um garçom me traz uma bandeja enorme de grandes camarões frescos, pescados no dia anterior, alho e óleo” (...) na tarde calma e serena da praia (...) onde uma felicidade plena cobre a pele da gente e se derrama sobre a mente e o coração”.

Deixarei as delícias da mesa – e todos os camarões – reservados para as férias do Sant’Ana. Mas não abro mão da tal felicidade.

Ao caminhar na areia recordarei o ano de 1956 quando, de calças curtas e mãos dadas com meu pai, o radialista José Mauro, estive em Balneário Camboriú na campanha de Jorge Lacerda ao governo.

Mas, principalmente, quero rever aquele marzão que circunda as paradisíacas praias de Floripa ao lado dos amigos que permanecem lá e tanto contribuíram para tornar inesquecível aquele ano de 1986.

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terça-feira, 20 de novembro de 2007

O cadáver insepulto de Evita Perón


Aconteceu, afinal, o anunciado encontro entre Lula e a futura presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Três dias antes de vencer no primeiro turno, com 8.650.990 votos (45,29%), Cristina prometeu que sua primeira viagem seria a Brasília. Não cumpriu, pois foi ao Chile de Michelle Bachelet participar da XVII Cúpula Iberoamericana.

É a primeira mulher eleita para o cargo majoritário na Argentina. Isabelita Perón, que era vice, assumiu o governo depois que Juan Domingo Perón morreu. Governou entre julho de 1973 e março de 1976, até ser derrubada pela ditadura.

Antes das duas, porém, houve o mito Evita Perón, a mãe dos pobres e protetora dos ‘descamisados’, responsável pela popularidade do general que presidiu a Argentina pela primeira vez entre 1946 e 1955 (foi reeleito em 1951 e deposto pelos militares).

Muito já se escreveu sobre esse período. Ninguém obteve o êxito espetacular de Tomás Eloy Martinez com o fantástico “Santa Evita”.

“Todo bom romancista é, de algum modo, um detetive”, diz Martinez, “pois manipula verdades que parecem mentiras e cria mentiras que se tornam verdades, e acaba acreditando que aconteceram exatamente dessa forma, embora ele as tenha inventado. Portanto, nesta condição, a única coisa que o escritor não pode é provar a veracidade daquilo que escreve”.

Delson Biondo, em 'Santa Evita, um romance histórico', analisou: "Neste jogo de mentiras verdadeiras, Martínez vai deixando em seu romance pistas que auxiliam ou advertem o leitor sobre os perigos dessa artimanha.
Talvez por isso Martínez deu a “Santa Evita” a forma de reportagem. Foi o modo mais convincente que encontrou para conferir verossimilhança a uma história completamente inverossímil. Assim o autor também se transforma num personagem que conhece e entrevista outros personagens do romance (embora nunca tenha realmente entrevistado todas as pessoas mencionadas). Ao leitor caberá a tarefa de descobrir o que é verdade e o que é mentira".

Foi prazeroso ler “Santa Evita”, oitavo lugar na lista dos 100 romances mais importantes escritos em língua espanhola nos últimos 25 anos. E o autor abordou o tema com uma coragem extraordinária.
A respeito, Gabriel García Márquez sintetizou na última capa do livro:

“Quando Eva morreu, em 1952, seu marido, o general Juan Domingo Perón, ordenou que seu corpo fosse embalsamado e exposto à nação argentina numa redoma de vidro. Três anos depois, quando o ditador caiu, o cadáver de Evita tornou-se um fardo pesado demais para qualquer regime.

Assim teve início uma das mais insólitas peregrinações de que se tem notícia. Seqüestrado pelo Serviço de Inteligência do Exército, o cadáver vagou semanas pelas ruas de Buenos Aires, estacionou durante meses nos fundos de um cinema, prestou-se a todo tipo de paixões no sótão da casa de um capitão desmiolado até reaparecer, 16 anos mais tarde, no Velho Continente.

Enfim, o romance que eu sempre quis ler”, finaliza García Márques.

E você, ainda não leu?

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domingo, 18 de novembro de 2007

Sergio Faraco, a lição do grande escritor


O escritor Sérgio Faraco foi eleito Personalidade do Ano no Prêmio Fato Literário da 53ª Feira do Livro de Porto Alegre. Ao agradecer, resumiu a seriedade com que encara o ofício: “Um reconhecimento como este não faz com que alguém escreva melhor, mas estimula esse alguém a alcançar a última fronteira de sua capacidade”.

Segundo o Caderno de Cultura de Zero Hora, “Faraco dedica semanas, meses e até anos à escritura e a reescritura de cada texto”. Ele justifica: “Persigo a tradução daquilo que me levou a escrever, em termos tão naturais e convincentes que, pronto o texto, o leitor possa sentir, com verossimilhança, tudo o que eu senti”.

- Não teme o risco de, ao burilar tanto o texto, perder a fluidez mais natural?, perguntou o repórter Eduardo Veras.

- Não, eu trabalho justamente para conseguir essa fluidez, essa naturalidade. Já dizia Quintana, com muita sabedoria, que na literatura há uma grande diferença entre o espontâneo e o natural. O espontâneo é aquilo que jorra e, no mais das vezes, é mero desabafo, mera expressão sentimental, e então é o cinzel que vai elevá-lo à naturalidade, que é um outro nome da expressão literária.

Considerado um dos principais contistas do país na atualidade, Faraco recebeu o Prêmio Nacional de Ficção, atribuído pela Academia Brasileira de Letras à coletânea “Dançar tango em Porto Alegre” como a melhor obra de ficção publicada no Brasil em 1998.

A respeito de seu livro "Contos Completos”, Miguel Sanches Neto escreveu em O Estado de S.Paulo: "É o momento de consolidação de uma vocação vigorosa. Faraco conseguiu dar a esse inventário uma unidade invejável, demonstrando que suas histórias, jamais frutos do acaso, estão estruturadas a partir de uma visão de mundo bem delineada e coerente".

O livro é dividido em três partes. Na primeira, com 14 contos, estão as narrativas que se passam em um outro tempo, na zona fronteiriça (Faraco nasceu dia 25/7/1940, em Alegrete) representada pela linguagem de seus habitantes e sua maneira de ver o mundo.

Os 17 contos da segunda parte “remetem também a um tempo mítico, já não mais ligado a um espaço de exceção São histórias que focalizam a infância, seus dramas e valores em saudável desarmonia como modus vivendi dos adultos”.

A terceira parte contém 29 dos 60 contos e “coloca em cena o homem na cidade grande, tentando ludibriar sua solidão. O contista se dedica a essa fauna que, perdida no abismo entre o passado e o presente, procura compensar o sentimento da incompletude através da amizade e principalmente da relação sexual”.

“São esses três tempos que Sérgio Faraco nos apresenta em narrativas que primam pela clareza, pela concisão e pelo poder de arrebatamento do leitor”, finaliza o texto de Sanches Neto na apresentação de “Contos Completos”, da L&PM Editores.

Leia essa obra magnífica porque, ao final, das duas uma: ou você aprende a escrever de verdade ou se torna um excelente leitor.

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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Sobre censuras e tolices



O livro “Memórias de minhas putas tristes”, de Gabriel García Márquez, acaba de ser banido com estardalhaço pelo governo do Irã um mês depois de ter sido publicado. Alegação: é “imoral”.

A história de um velho jornalista que decide comemorar seus 90 anos com uma jovem virgem é um hino de louvor à vida e ao amor. “Um conto de fadas sentimental, implacável, sábio e irônico”, sintetiza a resenha.

Ao ler a notícia lembrei do que ocorreu durante o relançamento de “Claudinha no ano da loucura”, do grego Alexandros Evremidis, em São Paulo. Uma senhora pegou o livro, leu alguns trechos e o jogou de volta no balcão, exaltada:
- Isso é pedofilia!

Trata-se da paixão de um homem maduro por uma ninfeta nos loucos anos 70, no Rio de Janeiro. Carlos Heitor Cony escreveu: “A crítica acusou em Evremidis a fixação no sexo, naquilo que poderia parecer um gênero pornô. Se assim é, viva a pornografia! Tanto em ‘Melissa’ como principalmente em ‘Adeus Grécia’ (livros anteriores do autor) corre bastante esperma – como na vida real”.

Li 'Memórias' e 'Claudinha' esse ano. Emocionei-me com as 127 páginas do primeiro romance que Gabriel García Márquez publicou depois de dez anos. Uma pequena obra-prima do Prêmio Nobel de Literatura de 1982.

Sobre o livro de Alexandros Evremidis, comentei: “Encantou-me a naturalidade com que escreve. É como alguém sentado ao teu lado, contando uma história tão fascinante que você não sente o tempo passar”.

Proibir “Memórias de minhas putas tristes” e considerar como pedofilia “Claudinha no ano da loucura” não é censura.
É tolice.

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terça-feira, 13 de novembro de 2007

Borges e a sabedoria da literatura

Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 1899/Genebra, 1986). O maior poeta argentino e um dos mais importantes escritores da literatura mundial.

O Guardião dos livros

Ai estão os jardins, os templos e a justificação dos templos,
A exata música e as exatas palavras,
Os sessenta e quatro hexagramas,
Os ritos que são a única sabedoria
Que outorga o Firmamento aos homens,
O decoro daquele imperador
Cuja serenidade foi refletida pelo mundo, seu espelho,
De sorte que os campos davam seus frutos
E as torrentes respeitavam suas margens,
O unicórnio ferido que regressa para marcar o fim,
As secretas leis eternas,
O concerto do orbe;
Essas coisas ou sua memória estão nos livros
Que custodio na torre.

Os tártaros vieram do Norte
em crinados potros pequenos;
Aniquilaram os exércitos
Que o Filho do Céu mandou para castigar sua impiedade,
Ergueram pirâmides de fogo e cortaram gargantas,
Mataram o perverso e o justo,
Mataram o escravo acorrentado que vigia a porta,
Usaram e esqueceram as mulheres
E seguiram para o Sul,
Inocentes como animais de presa,
Cruéis como facas.

Na aurora dúbia
O pai de meu pai salvou os livros.
Aqui estão na torre onde jazo,
Recordando os dias que foram de outros,
Os alheios e antigos.

Em meus olhos não há dias. As prateleiras
Estão muito altas e não as alcançam meus anos.
Léguas de pó e sonho cercam a torre.
Por que enganar-me?
A verdade é que nunca soube ler,
Mas me consolo pensando
Que o imaginado e o passado já são o mesmo
Para um homem que foi
E que contempla o que foi a cidade
E agora volta a ser o deserto.
Que me impede sonhar que alguma vez
Decifrei a sabedoria
E desenhei com aplicada mão os símbolos?
Meu nome é Hsiang. Sou o que custodia os livros,
Que talvez sejam os últimos,
Porque nada sabemos do Império
E do Filho do Céu.
Aí estão nas altas estantes,
A um tempo próximos e distantes;
Secretos e visíveis como os astros.
Aí estão os jardins, os templos.

Jorge Luís Borges in Elogio da Sombra
Tradução Carlos Nejar e Alfredo Jacques

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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Por uma Feira permanente


A 53ª Feira do Livro finalizou ontem. Se fosse prefeito de Porto Alegre tornava a Feira permanente e assim a Praça da Alfândega teria a presença constante de toda a população e não só da malandragem que vive acampada por lá durante o resto do ano.

Desta Feira vou lembrar a noite de 28 de outubro, lançamento do livro de Werner Zotz, “Aventuras nos mares do Brasil”. Relato de viagem a bordo de um veleiro, de Fernando de Noronha a Florianópolis, inclui um passeio de carro pelo sertão nordestino. G
uia fundamental para quem pretende repetir o roteiro.

Numa das mesas ao lado, o jornalista Flávio Tavares autografava “O Che Guevara que conheci e retratei”. O livro contém 62 fotos que o autor fez do Che em 1961 durante os 13 dias da conferência da Organização dos Estados Americanos, em Punta del Este.
Um espanto a fila. Presentes pelo menos dois candidatos a Prefeitura em 2008: Luciana Genro, do PSOL, e Miguel Rossetto, do PT. Deveria ter pedido a eles que, caso eleitos, tornassem a Feira permanente.

Flávio Tavares é autor de dois livros de impacto. Em “Memórias do Esquecimento: os segredos dos porões da ditadura”, relata em detalhes as torturas que sofreu. Expulso do país, viveu no México e na Argentina. Seqüestrado e preso novamente no Uruguai, foi libertado depois de sofrer mais torturas e seguiu para a Europa. Retornou ao Brasil em 1979, após 10 anos de exílio.

Mas o livro “O dia em que Getúlio matou Allende” é impressionante. Nele, Tavares percorre seus 40 anos de jornalismo com relatos sobre fatos em que , além dos personagens do título, desfilam Che Guevara, De Gaulle, Perón, Lott, Juscelino, Jânio, Jango e Brizola, entre tantos outros de importância histórica relevante.

“Nada é inventado e tudo em verdade ocorreu. Se, ao longo do relato, a trama se desenvolve como num romance em que as paixões se exteriorizam no amor e no ódio, na ilusão e no sonho, na vaidade e no embuste – ou se atritam entre si, como na ficção convencional -, tudo se deve a que, nas profundezas do seu íntimo, a realidade é assim: soa como ficção”, adverte Flávio Tavares.

Quantas vidas numa só.

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sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O Sultão em "Tempos Heróicos"


A Editora Letras Brasileiras resume assim esse livro de Jakzam Kaiser, com uma belíssima capa: “Narrativa ambientada na Porto Alegre dos anos 70-80. Fúria inconseqüente, militância, trabalho, drogas e sexo dominam um cotidiano em que preocupações, comportamentos e o contexto de uma geração são desvendados. Retrato fiel de quem viveu teorias na prática e se entregou a experiências afetivas e políticas que ainda repercutem”.

O livro tem por base o diário que Jakzam manteve nesse período. Anos depois serviu de inspiração para retratar a transição da adolescência ao mundo adulto e da ditadura à democracia. Uma história contada em ritmo de videoclipe

Os personagens reais, alguns hoje bem conhecidos, tiveram os nomes alterados por razões que só vai entender quem comprá-lo na Feira e percorrer as 165 páginas de um livro trepidante.
O Juremir Machado da Silva, que hoje lança "Antes do Túnel, Junto às Palmeiras" (uma história pessoal do Bom Fim) escreve no Correio do Povo que guardou um conselho de Ricardo Carle, a quem dedica seu livro: nunca esconder o passado.

Em homenagem ao Ricardo, abro o jogo: estou em "Tempos Heróicos" como Sultão, apelido que ganhei em Floripa pela forma nada educada de comer com as mãos, na época em que ajudei a criar o Diário Catarinense. Com o Ricardo Carle, inclusive.

E os outros? Quem eram as mulheres sexualmente liberadas? E os guris que jogavam pedras na polícia, atualmente no governo Lula?

Vale a pena tentar decifrá-los. Em último caso, perguntem ao autor.

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quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Um livro de rachar o bico


“Oskar Schell é inventor, desenhista e fabricante de jóias, francófilo, vegan, origamista, pacifista, percussionista, astrônomo amador e colecionador de moedas raras, borboletas que morrem de causas naturais, cactos em miniatura, memorabília dos Beatles e pedras semipreciosas. Ele tem 9 anos.”

Assim começa a orelha do livro “Extremamente Alto & Incrivelmente Perto”, de Jonathan Safran Foer, lançado em 2005 nos Estados Unidos e publicado no Brasil pela Rocco, tradução de Daniel Galera (autor do ótimo "Mãos de Cavalo").

Oskar procura resolver o enigma de uma chave encontrada dentro de um vaso no closet de seu pai. Detalhe: o pai foi uma das 2.749 pessoas que perderam a vida no ataque ao World Trade Center.

Quando lançou "Tudo Se Ilumina", aos 24 anos, foi sucesso imediato. A revista New Yorker o apontou como a grande estréia literária dos últimos anos.
Em seu segundo romance, Jonathan Foer conta uma história ocorrida pós 11 de setembro de 2001. “Ousado e inovador, esse livro consegue equilibrar na medida certa o cômico e o trágico numa mistura delicada”, finaliza a orelha.

Em dúvida se titulava o post como “Um livro inquietante” ou “Um livro inquieto”, lembrei da expressão que o pequeno Oskar usa: rachei o bico. Consultei o Bruno Galera, do excelente blog Big Muff.

"Rachei o bico é algo perto de 'fiquei impressionado'. Uma amiga minha de Recife tem um outro termo pra isso: 'fiquei incrível'. Acho que é para transmitir um certo assombro, estupefação."

Extremamente Alto & Incrivelmente Perto me rachou o bico.

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quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Apenas um Curumim

Ontem a mãe de uma menina de oito anos perguntou ao escritor David Coimbra, em um chat, no Clic RBS, que tipo de livro ela deveria dar para a filha que não gosta de ler. O David falou primeiro em gibis e revistas de quadrinhos.

Para essa mãe, o jornalista Paulo Burd tem uma receita infalível, praticada com sucesso nos filhos Rafael, Larissa e Felipe. À noite, para alívio da mamma Agnese, contava histórias infantis e representava os personagens. Radiofonizou Asterix, Obelix, Panoramix e toda a coleção.

Não é tarefa fácil porque hoje a gurizada tem à disposição o mundo dos videogames interativos em que se pode simular atividades físicas - andar de skate, surfar, jogar tênis, dançar e até praticar ioga.

Quando cansarem do brinquedo, sugiro o livro “Apenas um Curumim”, de Werner Zotz (Editora Letras Brasileiras). Conta a história de um índio órfão, criado entre brancos, que volta à floresta com um velho pajé. Na jornada, o curumim redescobre sua identidade, recupera a auto-estima e a alegria.

Lançado em 1979, recebeu os prêmios Fernando Chinaglia (1979), Monteiro Lobato (1981), Brasília de Literatura (1982) e o de melhor publicação latino-americana para jovens, em 1987. Está na 27ª edição, com quase dois milhões de exemplares vendidos.

É tão bom que o Paulo Burd nem precisa interpretar. Tá na Feira.

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terça-feira, 6 de novembro de 2007

"Reparação", Feira garantida

Em tempo de Feira do Livro, mesmo com 20% de descontos, é ardua a tarefa de estocar livros para ler nas férias ou até a feira de 2008. Sugestões são bem-vindas.

O David Coimbra fez no seu Blog a lista de 50 obras imperdíveis e acrescentou 20 livros indicados pelo jornalista Cyro Martins, respeitado leitor. Confira, vale a pena.

Mas as duas listas não relacionam "Reparação", do inglês Ian McEwan.

Lançado em 2001 e editado pela Companhia das Letras em 2002, muito já se escreveu a respeito. Basta você acessar o Google e verá que os críticos são quase unânimes: "Reparação" é o melhor romance publicado no século XXI.

Tive a felicidade de ler bastante este ano. Nada esteve mais próximo do que se costuma denominar obra-prima.

Quem ainda não leu, bote "Reparação" no balaio. É feira garantida.

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segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Humberto Andreatta, em memória


O jornalismo do Rio Grande do Sul perdeu ontem um de seus grandes nomes. A morte de Humberto Andreatta deixa órfãos não apenas sua mulher, Noemy Franke, e os filhos Mateus e Juliana, futuros jornalistas.

Ficam desamparados de sua amizade os companheiros de tantas jornadas, presentes na capela 7 do Cemitério João XXIII, ainda sob o impacto da súbita perda, para o último adeus a um profissional respeitado pelo texto brilhante e pela ética inatacável.

Lá estiveram André Pereira, Marco Antonio Schuster, Cristina Pozzobon, Elaine Lerner, Rosina Duarte, Celso Schröder, Edgar Vasquez, Luiz Abreu, Santiago, Moa, Carlos Wagner, Nilson Mariano, Ricardo Stefanelli, Rafael Guimaraens, Almir Freitas, Airton Kanitz, Álvaro Grohmann, Pedro Osório e Sílvio Ferreira, entre tantos jornalistas.

Conto uma pequena história. Em 1976, a Cooperativa dos Jornalistas do Rio Grande do Sul – Cooojornal – criou o Jornal do Grêmio para contrapor ao Jornal do Inter, que também editava com grande sucesso na época do time de Falcão e Figueroa campeão brasileiro, rumo ao bicampeonato. Convidado pelo José Antônio Vieira da Cunha, contei com os melhores profissionais, torcedores do Grêmio, claro. Entre eles, o Beto Andreatta.

Uma das edições seria finalizada depois do Gre-Nal. Para nosso azar, o Grêmio perdeu. Na reunião de pauta seguinte, buscávamos justificar a derrota com artifícios – culpar a arbitragem ou algo semelhante – mas o Betão foi decisivo: “Perdemos e pronto, temos que assumir”. Mas é o Jornal do Grêmio, argumentávamos. E ele, irredutível: “Só a verdade garante credibilidade”.

Essa lição jamais será esquecida.

Valeu, Betão!

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domingo, 4 de novembro de 2007

Roberto Bolaño é imperdível



O escritor chileno Roberto Bolaño foi minha maior descoberta literária de 2007. Fiquei fascinado com sua novela "Noturno do Chile", de 118 páginas. Depois aventurei-me nas 622 páginas de seu polifônico romance "Os Detetives Selvagens". Morto em 2003, aos 50 anos, deixou obras notáveis. Três foram selecionadas esse ano entre as 100 melhores novelas escritas em língua espanhola desde 1982: Os Detetives Selvagens (3º lugar), “2666” (4º) e Estrela Distante (14º). À frente, Gabriel Garcia Márquez (O amor nos tempos do cólera) e Mario Vargas Llosa (La fiesta del chivo).

Em sua última entrevista, três semanas antes de sua morte, Bolaño, então gravemente enfermo, afirmou em Barcelona, onde viveu seus últimos anos à espera de um transplante de fígado: “Prefiro morrer em plena lucidez a morrer (como vários escritores) fazendo tontices”.

A partir de 1999, quando recebeu o prêmio Rómulo Gallegos por "Os Detetives Selvagens", passou a ser cultuado por jovens escritores, pela mídia cult e por críticos literários, em especial no Chile, para onde jamais retornaria desde sua fuga de um campo de concentração de presos políticos em Concepción, auxiliado por um policial que o reconheceu como ex-colega de colégio.
Francisco Hardman, professor de Teoria e História Literária escreveu no Caderno 2 de O Estado de S.Paulo:
"Nenhuma presunção e muito menos misticismo irrompem das múltiplas vozes, centenas de histórias e milhares de páginas de Bolaño. Seu infrarrealismo volta sempre ao plano da lucidez mais meridiana. Nas linhagens longínquas, Cervantes acompanhou, certamente, nosso iluminado escritor.
O próprio Bolaño, ao citar Cervantes, afirmou: “Tudo que escrevi é uma carta de amor ou de despedida a minha própria geração, os que nascemos na década de 50”. E adiante: “A América Latina está semeada com os ossos destes jovens esquecidos”.
Por tudo isto, Roberto Bolaño é imperdível.

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sábado, 3 de novembro de 2007

A Arte da Prudência


A 53ª Feira do Livro de Porto Alegre tem tudo para bater o recorde de público. Mais de 30 mil pessoas estiveram presentes ontem, Finados. Com 20% de desconto, sugerir bons livros é obrigação. O primeiro que indico é "A Arte da Prudência", do jesuíta espanhol Baltasar Gracián y Morales (1601/1658), teólogo, filósofo e escritor que morreu exilado por sua obra nada ortodoxa aos padrões da época.
A Arte da Prudência é considerada uma resposta a "O Príncipe", de Maquiavel (1469/1527), oráculo da ciência política moderna, e a "O Cortesão", de Baldassare Castiglione (1478/1529), dois livros de cabeceira das Cortes da Europa no renascimento. "Não é um tratado sobre a arte de governar, como a obra de Maquiavel, nem manual do saber viver, do refinamento, como o de Castiglione; é antes um vade-mécum do querer viver. O objetivo de Gracián é ajudar a navegar aqui embaixo e a moldar o destino", assinala Jean-Claude Masson.
Publicado em 1647, seus ensinamentos mantêm-se atuais. Para Arthur Schopenhauer, "A Arte da Prudência é uma pequena obra-prima do gênero. Destina-se a todos e a cada um, mas é, acima de tudo, suscetível de se tornar o manual dos que vivem no grand monde, em particular os jovens em busca da felicidade, ao antecipar ensinamentos que só obteriam depois de longa experiência. Uma única leitura é insuficiente, pois ele desempenha o papel de um verdadeiro companheiro para toda a vida".
Comprem. Vale a Pena.

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sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O milagre de Tony Melendez

Há alguns meses luto com meus monstros. Tudo começou em fevereiro, após ter a sinopse de um livro aprovada. Quando se vai publicar, em geral o caminho é inverso: escrever, revisar e enviar os originais. Esses dias um amigo disse: "Nunca vi livro não escrito já com a sinopse pronta".

Na verdade era apenas o plano de vôo. Os ajustes são feitos em pleno ar. Com milhões de livros publicados é desafiador criar algo diferente. Não tenho essa pretensão. Apenas procuro contar a melhor história possível.

Nos momentos de dificuldade apela-se para os mais diversos recursos. Atualmente, o maior sucesso em auto-ajuda é 'O Segredo', um fenômeno. Meu 'segredo' é outro. Assisto o vídeo de Tony Melendez (abaixo). O artista que encantou João Paulo II é uma lição de vida e emociona ao dizer:

"Quando levantam as mãos, eu vejo um milagre".




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Casamento perfeito

Um dos sites mais espetaculares que a Internet proporciona é o YouTube. Ali se pode ver praticamente todas as músicas na voz dos intérpretes favoritos, assim como trechos dos melhores filmes já produzidos.

Miss Sarajevo é um exemplo perfeito do casamento de música e vídeo. Interpretado pelo U2 e Luciano Pavarotti, inicia com imagens do encontro entre o tenor italiano e a Princesa Diana.

Inesquecível.



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A maior invenção da humanidade

Criação do homem, de Michelangelo

Rendo-me. É impossível viver sem um blog pessoal.
Desafiador como pilotar um foguete, mas vale a pena.
A ilustração inicial lembra que o homem é criação de Deus. E o título 'A maior invenção da humanidade' se refere à Internet.
Ela modificou totalmente a convivência, inclusive o conceito de amizade. As relações virtuais passaram a ser tão valorizadas quanto os encontros pessoais.
A Internet possibilita a expansão geográfica e o aumento geométrico das relações - através de fóruns, chats etc. Os blogs personalizados dão liberdade para expor a diversidade das idéias e opiniões, que podem ser lidas em qualquer lugar do Planeta.
A possibilidade de tamanha interação é incrível e não há como deixar de usufruí-la.
Vou nessa, também.

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